No dia 28 de abril aconteceu o lançamento de um dos estudos mais esperados pelo ecossistema de impacto do Brasil: o Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental. A transmissão, que foi um sucesso, aconteceu ao vivo e reuniu mais de 200 pessoas assistindo simultaneamente à apresentação e soma mais de 1.000 visualizações. A Kaleydos participou desse lançamento e traz hoje os principais destaques.

Realizado desde 2017 pela Pipe.Labo, referência sobre o setor no país, o estudo é uma fotografia do ecossistema de impacto socioambiental brasileiro que acompanha e traz informações e dados atualizados do pipeline de negócios de impacto socioambiental do Brasil. A terceira edição reuniu quase 1.300 negócios respondentes e 62 organizações apoiadoras.

Dividido em cinco grandes blocos, a nova edição é o estudo mais completo do setor e tem muitas novidades, tanto em sua apresentação quanto em seus dados.

As novidades do Mapa

Além do estudo em seu formato tradicional que está disponível para download, a Pipe.Labo criou uma versão online, navegável e interativa, facilitando a compreensão dos dados e informações de forma mais visual. Essa versão pode ser acessada no site do mapeamento.

O Mapa mostra também uma análise histórica do setor, comparando os três mapas lançados (2017, 2019 e 2021) com visão de futuro e tendências a partir desse cenário. A crise do COVID-19 e seus impactos nos empreendimentos e o aprofundamento da Jornada Empreendedora, buscando compreender as demandas de cada etapa, também são análises novas do estudo.

Por fim, o impacto ambiental agora ganhou um espaço exclusivo: foi desenvolvido o Mapa Ambiental, com foco em Negócios Verdes (aqueles que desenvolvem soluções para desafios do clima e do meio ambiente).

Quem está empreendendo com impacto positivo no Brasil?

O perfil da pessoa que empreende soluções de impacto socioambiental no Brasil é muito próximo do empreendedor tradicional: adultos jovens, de gênero masculino, caucasianos e escolaridade elevada (53% deles tem pós graduação). Outro aspecto interessante é o tipo de curso escolhido entre eles: suas formações são em administração, economia e contábeis.

A diversidade está caminhando aos poucos, mas segue sendo uma dificuldade. Apesar de, na prática, esses números terem melhorado, falta apoio a esses empreendedores que acabam não conseguindo crescer. Exemplo disto é o percentual de presença feminina na liderança dessas empresas (67%) que parece alto, mas quando vemos as iniciativas com maior ou exclusivo quadro societário feminino, elas pouco conseguem acessas capital e programas e por isso estagnam no vale da morte.

Quanto à raça, apenas 9% da liderança é preta e esses também têm grande dificuldade de captar recursos e atravessar as fases iniciais da jornada. Sobre a faixa etária, a maior parte é jovem, mas os maduros estão chegando para ficar: 22% dos empreendedores têm 50 anos ou mais e observou-se uma tendência de maior estabilidade e avanço na jornada quando um ou mais líderes da empresa tem este perfil que soma maturidade e experiência.

“O setor precisa de diversidade, não só de gênero, mas de faixa etária, de etnia, de classes econômicas, de regiões. Trazendo diversidade empreendedora, teremos mais soluções para problemas reais” disse Livia Hollerbach, cofundadora da durante sua apresentação.

A boa notícia é que mais da metade dos empreendedores e empreendedoras se empoderaram e agora se posicionam como empreendedores de impacto, se relacionando mais ao ecossistema e apresentando suas soluções como boas para o mundo.

Já sobre as práticas de governança, ainda há muito o que crescer: mais de 40% não entendem, não tem acesso ou não definiram os indicadores de impacto. “Muito disso ocorre por desconhecimento. O tema não é amplamente divulgado e os empreendedores sentem falta de ferramentas e apoio para desenvolver essas boas práticas”, diz ela.

Onde, como e que tipo de solução esses negócios estão desenvolvendo?

Eles são novos e, apesar de saberem bem seu modelo de vendas, buscam parar de pé. O perfil do negócio do Mapa 2021 mostra empreendimentos de 0 a 5 anos de atuação, sediados principalmente no Sudeste (58%) e no Nordeste (16%), mostrando que ainda falta mobilização para descentralizar esse ecossistema.

 “Mais uma vez a região aparece com concentração de negócios, principalmente em São Paulo. Isso ainda acontece por conta de uma maior oferta de programas, acelerações e investimentos. Porém, no momento digital que vivemos percebemos que há um processo de descentralização desses programas para outras regiões”, analisou Livia.

Eles são negócios que estão desenvolvendo soluções para desafios globais e impactam, principalmente, as verticais de tecnologias verdes (49%), cidadania (40%), educação (28%) e saúde (27%).

Da base, 66% dos negócios já têm um modelo claro da viabilidade financeira, 71% dos negócios declaram estar formalizados, mas só 20% têm sustentabilidade financeira. A maior parte (80%) ainda está em fases entre o desenvolvimento da solução e a organização do negócio.

No tópico modelo de viabilidade, na monetização o top 3 é a venda direta recorrente (47%), a venda direta única (45%) e a assinatura (34%). Já o de comercialização é o B2B (empresa vendendo para outra empresa), o B2C (empresa vende direto ao consumidor final) e B2B2C (empresa para empresa que vende para consumidor). Lembrando que um negócio pode ter um ou mais modelos de monetização e até combiná-los entre si.

O acesso a investimento ainda é complexo e falta capital semente. Só 44% dos negócios já acessaram algum tipo de investimento, sendo 69% por meio de doações de diversos tipos. A intenção de captação da grande parcela (64%) é de tickets de até R$500 mil, o que é um valor considerado baixo pelos fundos e grupos de investidores.

Ainda há uma demanda alta sobre competências e recursos que ajudarão a impulsionar e disseminar suas soluções: 44% buscam dinheiro, 24% mentorias e 21% comunicação.

 A jornada é o mais importante

Pela primeira vez o Mapa buscou compreender mais profundamente a Jornada Empreendedora com o objetivo de identificar quais são as dificuldades e as demandas de cada etapa da jornada. Para essa análise especial, a jornada conhecida com 9 fases foi reorganizada em 4 grupos com demandas próximas.

No estágio de ideação (Ideia + Validação + Protótipo) é encontrada uma concentração de mulheres empreendedoras (que já possuem dificuldade histórica de evoluir na jornada pela falta de apoio e investimento), os negócios são Tecnologias Verdes e de Saúde, refletindo as pautas ambientais e o enfrentamento ao COVID-19. A maior parte deles demandam o Smart Money para crescer, ou seja, investimento de recurso financeiro somado à inteligência para ajudar nos próximos passos.

Na estruturação (Piloto + MVP + Organização do Negócio) o perfil da pessoa empreendedora permanece, mas os negócios são mais voltados à Cidadania e Educação. A demanda aqui também é de dinheiro, mas também de recursos que ajudem a engrenar a solução como mentorias e comunicação e marketing.

A fase de crescimento (tração + pré-escala) apresenta uma mudança significativa. Agora, o perfil do empreendedor é masculino e as soluções estão nas áreas de Educação e Cidades. O dinheiro ainda é demanda considerável, mas por estar estabilizado o empreendedor busca ajuda nos seus processos operacionais e estratégicos como marketing, venda e pós-venda.

Passadas as etapas anteriores, chegou o momento de escalar. A expansão segue com o perfil empreendedor da fase anterior, os negócios voltam com maior expressividade em Tecnologias Verdes, Educação e agora também Finanças Sociais. As solicitações aqui afunilam e envolvem o apoio para expansão de operações (local e globalmente) e o fortalecimento da cultura e da governança da empresa.

Análise comparativa dos mapas

Pela primeira vez foi realizada uma análise com visão comparativa entre os mapas, focando nos avanços e não avanços significativos. De forma positiva, identificou-se o crescimento da diversidade, experimentação e do impacto. Quando olhamos o inverso, estrutura dos negócios, realização e apoio ao governo se apresentam como os maiores entraves do ecossistema. Veja na tabela abaixo alguns números que demonstram essa comparação.


 


O impacto do COVID-19 nos negócios de impacto

Entender o momento do “novo normal” e se adaptar ao cenário pandêmico não foi (e não é) tarefa fácil. Ainda assim, quando perguntado sobre a situação atual quase 500 negócios conseguiram responder as questões.

Foi observado que a crise foi um divisor de águas, onde a maior parcela dos navegantes (52%) a viveram como uma oportunidade para lançamento de novos produtos, serviços e exploração de novos mercados. Entretanto, 6% deles fecharam ou estão em processo de fechar as portas e 10% afirmam que não sentiram diferença na operação.

Como principais impactos da pandemia, 30% dos participantes relataram a redução de vendas, 25% dificuldade de acesso a recursos financeiros e 18% a instabilidade da cadeia de fornecimento de matéria prima (afetando diretamente a compra de insumos e a produção dos produtos).

Apesar do cenário preocupante e muitas vezes desanimador, os empreendedores veem em 2021 a possibilidade da volta por cima e 80% deles querem aumentar o faturamento este ano.

O futuro será de impacto

Não há como fugir, “o impacto não é mais nicho” e veio para ficar.

Para reforçar esse argumento, o estudo traz três fatores que fortalecem essa visão de futuro: o boom do ESG (Environmental, Social and Corporate Governance, em inglês), o crescimento da tendência da mobilização de empresas que se engajam para resolver problemas da sociedade de forma efetiva e o aumento da participação de Institutos e Fundações somando aos negócios de impacto oferecendo e testando formatos de mecanismos de apoio financeiro, fazendo o Brasil virar referência em Venture Philanthropy na América Latina.

 

Confira a nova edição do Mapa assunto e acompanhe as tendências pelo lançamento disponível no YouTube e acessando o 3º Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental na íntegra pelo site https://mapa2021.pipelabo.com/ .