Por Alessandra Oliveira. Originalmente publicado por Social Good Brasil.

No nosso painel sobre Carreira, propósito, realização: o que é sucesso pra você?, Rodrigo Vieira da Cunha (Profile) conversou com a Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora, e com Adriana Barbosa, do Instituto Feira Preta.

Abrindo a conversa Ana revelou o ensinamento de seus pais, que sempre a lembravam que ela não estava sozinha no mundo e que precisava olhar para o outro. “Essa é a influência que tenho da minha infância”, disse. Já Adriana, ao falar de sua infância e da influência das mulheres em sua vida, contou que foi educada por sua bisavó, avó e mãe. “Venho de família matriarcal onde as mulheres tomavam as decisões. Minha avó trabalhou por mais de 70 anos como empregada doméstica, em uma casa de família. Minha mãe nasceu nessa casa”, detalhou.

Para aliviar o trabalho da avó, a bisavó cuidava de Adriana e de seus irmãos. A empreendedora social lembra que o primeiro empreendimento que teve contato foi vendendo coxinhas que a bisa fazia. “Depois ela começou com a entrega de marmitex e mais tarde abriu as portas da casa para vender comidas no processo de ‘sevirologia’, disse.
Ao falar sobre o significado da palavra PROPÓSITO Ana disse que, em sua visão, propósito é quando a pessoa descobre o que gosta de fazer, mas com o objetivo de resolver problemas reais e não imaginários da sociedade. “Penso que isso tem de ser de verdade e não para dar uma cara bonita a algo que não é bonito”, assegurou. Adriana revelou que foi descobrindo seu propósito no trilhar da vida. “Não tive tempo de parar e me dar ao luxo de procurar sentido”, detalhou.

Para a questão sobre seus métodos de autoconhecimento, Ana respondeu que é importante termos consciência de que somos feitos de luz e sombras. “Tenho de pensar todos os dias em ser mais gentil comigo. Tendemos a ser muito duros conosco e achamos que não fazemos o suficiente, mesmo ajudando milhares de pessoas”, alertou.

Ana disse que a rede de amigos e família é onde se ancora, e que pede ajuda, busca sabedoria de quem está ao seu redor. “Os conselhos não precisam vir somente de quem tem doutorado. Meus pais sempre foram grandes conselheiros mesmo antes de terem estudado”, afirmou. A pergunta: Qual é o limite do ativismo e do propósito?, foi a reposta de Adriana. E ela ainda emendou: “Se permita ser acolhido, ser ajudado e deixe a pessoa te entregar aquilo que ela acha que tem de te entregar e não aquilo que você acha que precisa”, aconselhou.

E como lidar com o ego em tempos em que vocês se destacam nas listas das maiores influências femininas do mundo?

Para Adriana, é preciso lidar com o tema com muita maturidade e pensar qual o papel da sua liderança. “Eu me coloco no processo de facilitadora, como um ponto de conexões? O que eu faço com a Feira Preta, impacta outras pessoas, mas me retroalimenta também. Mas é preciso vigiar o ego”, assegurou.

Ana, por sua vez citou um estudo recente que mostrava o quanto somos movidos por reconhecimento e queremos que as pessoas vejam o quão somos ‘fofinhos’. “Estampar a capa de uma revista é consequência do seu trabalho e não sua motivação. Like é muito bacana, mas para mim, mais importante que tirar foto com a Angela Merkel é o processo, como eu cheguei naquele momento. Reconhecimento não é problema, mas não deve ser a consequência da tua motivação principal”, disse.

E como a busca pelo propósito está ligada à felicidade?

“O fato de eu viver com propósito e ser muito mais feliz porque eu falo aquilo que eu acredito, não quer dizer que eu não tenha os meus dilemas. Vamos parar com o mito de viver com o propósito é estar constantemente feliz. As coisas ficam mais coloridas quando se tem propósito, mas não quer dizer que você não terá problemas diários”, apontou Adriana. Enquanto Ana defendeu que o conceito de felicidade é muito individual.

Encerrando sua participação, Adriana discorreu sobre racismo e lembrou que à medida em que a população negra ascende economicamente o racismo aparece. “Nunca se viu tanta onda de racismo na internet. O racismo no Brasil é estruturado, institucional e acontece diariamente na vida da população negra e se não pararmos isso agora daqui a 30 anos teremos muita vergonha disso”, destacou.

Ana apontou para o aumento de 55% da violência contra as mulheres negras no Brasil, e redução de 10% da violência contra as mulheres brancas, nos últimos dez anos. “Estamos lutando por equidade”, salientou, ao lembrar que tais números serão razões para vergonha daqui a 30 anos.

“Como pode o Brasil, segundo país com maior população negra no mundo não ter enviado proposta para a década Afrodescendente da ONU, que compreende os anos de 2014 e 2024 ?”, questionou Adriana ao falar sobre outro motivo de vergonha atual e futura.

Encerrando o painel, as meninas disseram que gostariam de ter uma hora de conversa com Oprah Winfrey, no caso da Adriana e com Nelson Mandela (já em outro plano), no caso da Ana Fontes.