Entenda as oportunidades e as dores das mulheres empreendedoras com mais de 60 anos

Março é o mês da mulher e neste período muito se fala sobre empreendedorismo feminino. Mas há um recorte deste tema a que muitas vezes se dá menos atenção: o empreendedorismo feminino entre mulheres maduras.

O tema se insere no contexto da economia prateada, sobre a qual já falamos antes. Trata-se da soma de toda atividade econômica impulsionada pelas necessidades das pessoas com 50 anos ou mais. O que inclui os produtos e serviços adquiridos diretamente e a atividade econômica adicional que esses gastos geram. Atualmente, a economia prateada representa mais de US$ 8 trilhões e está posicionada como a terceira maior economia do mundo, segundo a consultoria de marketing Hype60+, especializada no público maduro.

Para entender mais profundamente o empreendedorismo feminino das 50+, Kaleydos conversou com Bete Marin, cofundadora da Hype60+ e da plataforma Empreendedoras Maduras. É também idealizadora do blog colaborativo Amo Minha Idade e do movimento Beleza Pura Mulheres Maduras. Na entrevista, Bete explica as diferenças que existem entre o empreendedorismo das mulheres maduras para o dos homens maduros, assim como as oportunidades e desafios que existem no campo. Após a entrevista, abordamos alguns casos de sucesso que poderão servir de inspiração.

Boa leitura!


Este é um conteúdo da série:

+imPACTO: Negócios & Propósito


Bete Marin fala sobre mulheres maduras e empreendedoras

No que o empreendedorismo das mulheres maduras é diferente dos homens maduros?

O Brasil já conta com 24 milhões de empreendedoras. Deste total, 46% têm idade a partir de 45 anos, segundo dados do PNAD.

Entre as mulheres maduras, a proporção de negócios que surgem por necessidade é maior do que entre os homens. Isso porque nosso gênero ainda é mais afetado pelo desemprego (14,1% comparado a 10,3% dos homens) e pelo “ageísmo”, o preconceito contra idade que encurta a carreira da mulher madura no mercado de trabalho tradicional. Dessa forma, o empreendedorismo é uma alternativa para se manter economicamente ativa, contribuindo com as despesas da casa, e encontrando propósito na atividade que realiza.

Com sonhos, tempo e propósito, cada vez mais mulheres maduras têm tirado do papel idéias que dão origem a novos negócios. São elas que vão protagonizar a nova geração de empreendedorismo maduro no Brasil.

Quais são as principais oportunidades de empreendedoras maduras, que empreendem para atender às necessidades de consumidoras maduras?

No Brasil temos mais de 50 milhões de pessoas com idade a partir de 50 anos. E as mulheres representam 58% deste contingente, mais de 29 milhões, totalizando 14% da população brasileira.

A grande maioria das maduras considera que ainda faltam produtos e serviços que atendam às suas demandas. Segundo estudo Tsunami60+ sobre hábitos e comportamentos do público 50+ no Brasil, as marcas não percebem o público 60+. Faltam produtos, serviços e marcas que se aproximem do universo e dos códigos da geração prateada. As categorias mais demandadas são vestuário, calçados e acessórios (56%); alimentos para necessidades específicas (40%); serviços de turismo (36%); cursos no geral (31%); soluções para adaptação da casa (28%); produtos de beleza e higiene pessoal (27%); e cursos de línguas e intercâmbio (22%).

É a partir desta constatação que vislumbramos as oportunidades para as mulheres maduras empreenderem.

Somos nós, mulheres maduras, melhor do que ninguém, que entendemos as necessidades, desejos e anseios desse público porque os vivemos em primeira pessoa e ainda cuidamos dos nossos pais, sogros, irmãos e amigos. Somos nós, portanto, as melhores pessoas capazes de construir a nova geração de negócios para os 50+ do Brasil. Está nas nossas mãos construir um novo mercado na economia que cresce com mais velocidade no mundo: a Economia Prateada.

Para isso, precisamos despertar em cada brasileira madura o sonho e a vontade de empreender. Seja por necessidade, visão ou oportunidade, existe um caminho de sermos co-criadoras de um novo mercado, de amplo potencial, mas invisível para a maior parte da sociedade.

Quais são os principais desafios para empreendedoras maduras?

Na minha opinião, o maior desafio para as empreendedoras maduras é a falta de apoio para suportar o crescimento sustentável dos negócios.

Segundo o relatório Empreeendedorismo Feminino no Brasil, do Sebrae, a idade média da empreendedora brasileira é de 43,8 anos, contra 45,3 anos dos homens. O mesmo relatório aponta que as empreendedoras estão em desvantagem em relação aos homens. Infelizmente não temos estudo com recorte de idade sobre as mulheres empreendedoras, mas temos a certeza que os desafios destacados abaixo devem ser maiores somados ao fator idade, frente ao preconceito que temos no Brasil:

  • Mulheres que estão à frente dos negócios tem 16% maior escolaridade que os homens
  • Mulheres dedicam 18% menos horas aos negócios em relação aos homens, provavelmente porque acumulam as funções demandadas pelo casa e familiares
  • As mulheres donas de negócio ganham 22% a menos do que os homens
  • 47% das mulheres empreendedoras trabalham em loja, escritório e galpão
  • 25% mulheres donas de negócio trabalha em domicílio, contra 6% dos homens
  • As mulheres estão à frente de negócios menores, com menor investimento e têm menor acesso às linhas de crédito mais vantajosas, com taxas de juros mais altas que os homens, apesar de serem menos inadimplentes
  • Quase metade das MEIs no Brasil são de mulheres, e elas estão envolvidas predominantemente em atividades relacionadas à beleza, moda e alimentação
  • A falta de tecnologia usada no dia a dia do trabalho somada à baixa inovação dos serviços, torna ainda mais competitivo o mercado em que atuam.

O resultado disso é que a proporção de negócios femininos vai diminuindo, quando o recorte de faturamento aumenta. Quanto maior o faturamento e crescimento de uma empresa, menor a taxa de representatividade das empreendedoras.

O desafio é que ainda há muita irregularidade nesse mercado que impede uma visão real do impacto e volume de mulheres maduras empreendedoras. Segundo o mesmo relatório, 2/3 delas ainda trabalham sem CNPJ, de maneira informal. São boleiras, artesãs e prestadoras de serviços. Pagam as contas da casa, muitas vezes, trabalhando sozinhas, sem sócios ou qualquer ajuda.

Por se concentrarem em atividades industriais pouco escaláveis, o potencial de crescimento é limitado. Hoje, 57% das empreendedores se encaixam na categoria MEI, com faturamento anual inferior a R$ 100 mil e 60% delas não têm funcionários.

Casos de sucesso

Conheça negócios criados por empreendedoras maduras para o público maduro!

Plataforma Empreendedoras Maduras

Ainda em fase de teste, será um marketplace para mulheres maduras encontrarem produtos e serviços de empresas de outras mulheres maduras. Nela, as empreendedoras também encontrarão apoio para gestão, financiamento e crescimento do negócio e as consumidoras encontrarão produtos e serviços de acordo com as suas necessidades. Conheça aqui.

Academia de Celular + Ânima

Proporciona aulas de inclusão digital pelo celular e computador para o público sênior. Seu objetivo é proporcionar aprendizados por meio de vivências positivas, contribuindo para esse público se sinta capaz e motivado a aprender. Sua metodologia própria é lúdica e desenhada a partir das dificuldades que os seus usuários encontram ao utilizar o celular, com aprendizagem significativa para favorecer o aprendizado e inclui práticas simples e de socialização. Clique aqui para saber mais.

Mon Âme

Grife de roupa que produz peças inteligentes que trazem conforto e praticidade para pessoas de todas as idades e biotipos nos mais variados estilos, e que também inova com a modelagem G+. Saiba mais.

Evento Beleza Pura

Evento feito por e para mulheres para celebrar a beleza da mulher madura. Sua primeira edição aconteceu no Dia Internacional da Mulher de 2020, em São Paulo. A partir de 2021, será itinerante e acontecerá durante o ano todo. Saiba mais.

Goodessence Cosméticos

Empresa fabricante de cosméticos de origem natural, com aromaterapia e biocompatíveis, que educa suas consumidoras para o uso sustentável e consciente dos seus produtos. Saiba mais.

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