Professor do Insper explica como funciona o método de avaliação de impacto do Insper Metricis e comenta o cenário dos negócios de impacto no Brasil
Uma questão fundamental para negócios de impacto é estabelecer uma metodologia para efetivamente medir o impacto social e/ou ambiental gerado pelas suas atividades. É também uma das áreas em que as empresas, em especial aquelas em seus estágios iniciais de desenvolvimento de negócios, encontram dificuldades. Seja devido ao custo de se medir e avaliar o impacto, seja pela complexidade de se fazer isso da maneira ideal.
Entre as organizações que se dedicam a criar métodos de avaliação de impacto, uma das que se destacam é o Insper Metricis, que publica o seu Guia de Avaliação de Impacto Socioambiental para Utilização em Investimentos de Impacto (clique para saber mais).
Na última semana, o Kaleydos entrevistou Sérgio Lazzarini, um dos elaboradores do guia. Sérgio é, segundo o site do Insper, “o professor titular da Cátedra Chafi Haddad, que tem por objetivo desenvolver pesquisas e promover debates voltados à ciência da administração, com foco na relação entre o setor público e privado, assim como temas de estratégia empresarial e investimentos de alto impacto social e ambiental”.
Durante a entrevista, o professor esclarece como funciona a metodologia de avaliação de impacto proposta no guia e explica a sua visão sobre as oportunidades e desafios para negócios de impacto no Brasil.
Você pode conferir a entrevista abaixo, no Youtube ou no SoundCloud. A seguir, resumimos alguns dos pontos principais abordados.
https://soundcloud.com/user-327193163/insper-metrics-sergio-lazzarini/s-qYtCY
O método da adicionalidade: isolando o impacto do seu negócio de outras variáveis
Todo negócio de impacto tem como missão produzir uma mudança positiva sobre a sociedade. Mas como ter certeza de que um avanço em um determinado indicador se deve realmente ao seu empreendimento? Para não haver distorções na avaliação, o Insper Metricis adota o “método da adicionalidade”.
Segundo Sérgio Lazzarini:
Qual é a ideia? É você dizer o que você está contribuindo para as populações-alvo que você está enfocando, como você está melhorando ou transformando essas populações. Mas você tenta também entender a seguinte pergunta: o que teria acontecido com essas populações sem o meu investimento? Então, o que você tem que fazer nesse caso? Você tem que pegar o seu projeto, ver o que aconteceu com ele, estabelecer alguns indicadores e comparar com o que aconteceu com outras populações, em outros grupos não atendidos pelo projeto.
E por que é importante fazer isso?
Se você observar só o que aconteceu com a sua população isso pode ser resultante de diversos outros fatores, não necessariamente ligados ao projeto. Por exemplo, você está beneficiando um grupo de famílias em uma determinada região. Mas o governo lança uma política de distribuição de renda, qualquer coisa que seja, que também causa uma melhoria substancial ao mesmo tempo. Então o que seria idealmente importante nesse caso? Você analisar não somente a população que você está apoiando, mas também outra população, o chamado grupo de controle nessa metodologia, que não foi apoiado pelo projeto. Por que aí eu consigo separar as duas coisas.
Como o Insper Metricis pode atuar para ajudar negócios a avaliar o seu impacto?
Sérgio explica que a atuação do Insper é principalmente na produção de conhecimento, que pode ser usado por outras organizações e por negócios de impacto.
Nós atuamos em duas áreas basicamente. A gente atua em pesquisas, em disseminação de conhecimento. O nosso guia, por exemplo, (…) ele se enquadra nesta categoria. Quer dizer, a gente tenta colocar essas técnicas, esses procedimentos em uma forma didática, compreensível.
E nós fazemos pesquisas também. Por exemplo, o que está sendo feito por aí em termos de medições, como investidores estão abordando isso (…).
E a gente tem também uma outra área, que é a avaliação de impacto em si. Então, em determinados casos, a gente entra como avaliador, como uma terceira parte avaliando. Só que não é nosso desejo fazer isso como uma coisa, assim, central. Por que nós somos ligados ao Insper e o Insper é uma instituição de ensino e pesquisa. Nós gostaríamos de colocar foco nesses dois eixos da missão. Ou seja, gerar conhecimento e transmitir e [oferecer] cursos também. (…) Nós temos um curso de medição de impacto, por exemplo, cursos de investimentos de impacto.
O que nós temos estimulado bastante é que as organizações utilizem o guia (…). E nós estamos aqui à disposição para trocar ideias e tirar dúvidas.
Avaliação de impacto e negócios em seus estágios iniciais
Recentemente, o 1o Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental, uma pesquisa conduzida pela Pipe.Social, revelou que uma parte significativa dos negócios de impacto brasileiros ainda não medem o seu impacto. Seja por que é um processo caro, complexo e demorado, seja por que não consideram a mensuração algo importante. Sobre esta questão, Sérgio Lazzarini comentou:
Uma coisa que eu falo é a seguinte: todo empreendedorismo tem o seu ciclo de evolução. Mesmo no empreendedorismo não de impacto, no empreendedorismo convencional, você tem um estágio de desenvolvimento do negócio, onde, por exemplo, o empreendedor está captando um capital-semente (…), onde você nem pode exigir muitos indicadores, mensuração, por que o próprio negócio está sendo desenhado. Então eu acho que a avaliação de impacto tem que seguir também um ciclo de evolução do negócio. Na medida em que o negócio começa a se estabelecer, em que já há uma perspectiva de, por exemplo, quais dados poderiam ser medidos, aí você pode começar a pensar mais nisso.
Sérgio enfatiza também que a avaliação deve ser feita pelas próprias equipes dos negócios de impacto, em vez de ser terceirizada.
Se você quer mesmo introjetar o desejo de impacto, ele tem que ser feito pelas pessoas. Várias organizações têm o seu financeiro. (…) Por que? Elas sabem que a parte financeira (…) é importante. E eu acho que para as organizações de impacto mais maduras isso também acaba sendo verdade.
No caso de organizações que estejam em seus estágios mais iniciais, e que não tenham como fazer uma avaliação de impacto propriamente dita, elas podem começar se planejando para isso.
(…) O que nós temos recomendado é o seguinte: mesmo que você não tenha recursos para fazer uma avaliação ultra-rigorosa etc., já começa planejando. Então o nosso guia diferencia duas fases do processo muito claramente. Uma é a fase de planejamento e outra é a fase da medição em si. A fase do planejamento é você pegar e entender o seu contexto, as vulnerabilidades da sua população-alvo, fazer o que se chama a sua ‘teoria de mudança’ (…) quais são as minhas atividades e como elas geram transformações efetivas. E aí você já pode começar a pensar em indicadores e tudo o mais.
Cenário dos negócios de impacto no Brasil
Por fim, o professor Sérgio Lazzarini também disse como vê os negócios de impacto no Brasil hoje e quais são os seus desafios e as suas oportunidades.
Olha, eu convido a todos que estão assistindo a acompanhar a evolução da Força-Tarefa de Finanças Sociais. Que é um grupo bastante diverso de pessoas que têm pensado a área e tem colocado prioridades e ações centrais. As possíveis ações são muitas, desde aumentar o processo de captação de recursos, até engatar mais esse processo a políticas públicas já existentes. Há uma grande oportunidade dos empreendedores privados assumirem cada vez mais atividades que a gente pensava que naturalmente seriam do setor público. (…) Todo tipo de área que o investimento privado pode ajudar bastante.
A medição de impacto é um ponto importante, né? Está sempre sendo discutido como isso pode ser feito.
Eu acho que essa questão que nós estamos discutindo sobre o crescimento do negócio, como que você acelera negócios, o papel das aceleradoras de impacto.
São várias áreas que são importantes. Eu vejo o campo em desenvolvimento. Eu acho que ele é o futuro, cada vez mais organizações estão interessadas e vão ter que colocar as variáveis de impacto como relevantes e importantes. A questão é a velocidade como isso vai evoluindo no futuro. Então, quanto mais gente a gente tiver pensando, mais rápido a gente vai evoluir.
Caso queira saber mais sobre mensuração de impacto, recomendamos também assistir à entrevista com Camila Matos, do Sistema B.