Originalmente publicado pelo ICE

Lançado no início de março em São Paulo por Sérgio Giovanetti Lazzarini, professor titular do Insper, o Guia para Avaliação de Impacto Socioambiental para Utilização em Investimentos de Impacto representa uma das abordagens de avaliação para investidores e empreendedores comprometidos com a geração de resultados sociais e ambientais positivos, e com a obtenção de graus variados de retorno financeiro.

Elaborado em 2013 por Sérgio G. Lazzarini, Leandro S. Pongeluppe, Pui Shen Yoong e Nobuiuki Costa Ito, a partir de contribuições de um grupo técnico de discussão formado por Célia Cruz, Franco Veludo, Frederik Kuonen, Simon Locher, Sandro Cabral, Tatiana Fonseca, Rafaella Ziegert e Raquel Costa, o Guia baseia-se no princípio da adicionalidade, que “consiste na avaliação do resultado do grupo que recebeu o investimento comparando com o resultado de um grupo similar que não recebeu o tratamento”. O método vai além de considerar a evolução do grupo no tempo, pois leva em conta a tendência natural que este grupo seguiria (evidenciada pelo grupo de controle), a fim de medir o real impacto do programa. O Insper Metricis – Núcleo de Medição para Investimentos de Impacto Socioambiental do Insper, realiza estudos sobre investimentos e estratégias empresariais de impacto socioambiental.

Segundo Lazzarini, o princípio da adicionalidade tem sido usado em várias avaliações de políticas públicas no Brasil e no exterior. “Em educação, por exemplo, já é corrente você fazer uma comparação entre escolas que adotam uma tecnologia ou princípio diferente de aprendizado com um grupo de controle (escolas que não fizeram mudanças). No setor ambiental, o cálculo de créditos de carbono é feito por meio da comparação entre o que teria acontecido em termos de emissão de carbono sem o projeto e o resultado obtido. Esse princípio se alinha com o tipo de pesquisa quantitativa que a gente faz aqui no Insper”, diz ele.

Quando se usa esse método, é preciso isolar fatores externos que podem ter influenciado o resultado do projeto.

O Guia propõe uma medição baseada em três pilares essenciais:

  • “Poucos indicadores com elevada relevância para aferir o impacto do projeto, isto é, as mudanças esperadas nas populações-alvo.”
  • “Avaliação com o que poderia ter acontecido a essas populações sem o investimento (por exemplo, comparação com grupos de controle similares que não foram contemplados pelo projeto).”
  • “Sempre que possível, medições antes e depois do início do projeto, para comparar a evolução relativa dos grupos afetados e não afetados pelo investimento.”

Com essa abordagem, o Guia oferece um ferramental prático para que fundos, empresas e governos avaliem o impacto dos projetos que receberão seus investimentos e utilizem esses resultados para atrair investidores interessados em impacto socioambiental. “Com métricas mais claras e estritamente ligadas aos projetos, validadas por uma terceira parte independente, deve-se facilitar o estabelecimento de contratos entre investidores de impacto e os executores dos projetos”.

Lazzarini lembra que muitas avaliações não geram implicações gerenciais, seja em termos de decisões sobre continuar ou não o projeto até a remuneração atrelada a metas, mas os chamados contratos de impacto social têm aumentado bastante essa necessidade. Nesses contratos o investidor coloca recursos e a remuneração que recebe depende da meta de impacto atingida pelo empreendedor. Isso dá mais segurança para ambos. Daí a importância de uma avaliação independente.

Antes do lançamento oficial da versão atual, mais amigável e clara, o Guia já tinha sido aplicado no Instituto Semear (os resultados dessa avaliação estão disponíveis no site do Insper).

Fundamentado em uma base quantitativa, o Guia estabelece um conjunto de normas metodológicas que podem ser seguidas para uma avaliação efetiva dos investimentos de impacto. A seção II trata do plano de medição e da coleta de dados; a seção III expõe os níveis de avaliação considerados para medição; e a seção IV aborda os principais cuidados a serem tomados ao se utilizar esse tipo de medição. A seção V apresenta o fluxograma com o processo de validação do plano de medição estabelecido. Por último, a VI seção traz a ficha padronizada para ser entregue à terceira parte, independente, para validação do plano de medição adotado.

Na parte final o Guia recomenda alguns cuidados para a realização satisfatória de uma medição de impacto.

Lazzarini afirma que o Guia foi feito num formato user-friendly, com muitos exemplos para facilitar sua aplicação. “Várias pessoas nos procuram, mas muitas vezes a gente nem tem braços para ajudar. Então sugerimos que o interessado tente fazer a avaliação e nos procure caso tenha alguma dúvida. Há casos de consultorias que pegaram o Guia e aplicaram. Estamos também com um projeto na Graduação do curso de Administração para que os alunos da disciplina Resolução de Problemas façam planos de medição seguindo o Guia, com a orientação de professores”.

A íntegra do Guia, em português ou inglês, pode ser baixada pelos interessados nos links abaixo.
Guia para Avaliação de Impacto Socioambiental para Utilização em Investimentos de Impacto – versão português
Guide to Socio-environmental Impact Assessment for Use in Impact Investments – english version