Investimentos de impacto podem ser mais rentáveis do que os tradicionais e os investidores são ainda mais rigorosos. Entenda por que.

Originalmente publicado pelo blog da Vox Capital

Dois mitos muito comuns* em relação a investimentos de impacto ou a gestores que trabalham com o tema são que i) existem tensões inconciliáveis entre impacto social e retorno financeiro e que, em algum momento, é necessário priorizar um em detrimento ao outro e que ii) quem trabalha com o tema é menos rigoroso ou mais “permissivo” que um investidor tradicional, focado puramente em lucro. Em nossa opinião, ambas as visões não são verdadeiras e não fazem jus ao trabalho que é realizado por esse grupo.

Quanto ao primeiro mito, é importante resgatar o próprio processo de criação de valor em uma economia. As receitas ou o lucro de uma empresa deveriam ser proporcionais ao valor que essa mesma empresa dá para a sociedade. Quanto maior o valor entregue, maiores a receitas e o lucro. Essa visão não é novidade. Philip Kotler, professor de marketing da escola de negócios Kellogg, em seus princípios de marketing, afirma que as empresas com melhor resultado econômico de longo prazo são aquelas que colocam as necessidades e a satisfação de seus clientes acima de tudo. Imagine então uma empresa que, como razão de existência, busca transformar para melhor a vida de seu cliente! Essa empresa tem todas as condições e as razões para trazer resultados ainda maiores aos acionistas do que aquelas empresas puramente focadas em maximizar o lucro no curto prazo. Uma preocupação genuína com o bem-estar e com a resolução de problemas reais trará uma maior lealdade dos clientes, melhor imagem de marca e, como resultado, um maior valor de mercado. Não é surpreendente, portanto, que uma pesquisa recente da Cambridge Associates mostre que fundos de investimento de impacto possuem, em muitos casos, retornos financeiros superiores ao de fundos “tradicionais”. É, de fato, uma nova maneira de se fazer negócios, criando ciclos virtuosos na economia.

Em relação ao segundo mito, não é verdade que o trabalho necessário para se aliar retorno financeiro a impacto social em uma mesma operação é mais simplista ou menos rigoroso. Pelo contrário, é uma tarefa ainda mais complexa. Além de toda a análise de potencial de mercado, de modelo de negócios, de projeções de venda, entre outras, gestores e analistas de investimentos de impacto ainda tem que avaliar o impacto potencial da solução apresentada pelo empreendedor. É necessário entender o problema real que aquele produto ou serviço está solucionando e a abrangência da solução. Nesse novo modelo de investimento, estamos adicionando uma variável a mais de complexidade sem abrir mão, em nenhum momento, de todo o rigor do modelo mais comum, focado puramente em maximizar retorno financeiro. O investidor de impacto precisa ter uma visão mais completa e mais abrangente do empreendimento e da equipe que está desenvolvendo o novo negócio.

O trabalho de se juntar dimensões tradicionalmente vistas como opostas está apenas começando. O termo “investimentos de impacto” vem sendo utilizado de maneira consistente há apenas 5 anos, desde o lançamento do relatório “Impact Investments: A New Asset Class” do JP Morgan e do GIIN, em dezembro de 2010. Ainda estamos aprendendo como fazer e quais os cuidados a serem tomados na sua execução. De qualquer forma, durante essa caminhada, é sempre importante evitar que alguns mitos se cristalizem e deem uma ideia errônea ou incompleta sobre o trabalho que estamos realizando.

* existem e existirão muitos outros, mas escolhemos esses dois para começar.

Foto: Stockvault.