Maure Pessanha explica como modelos de negócio  podem gerar impacto social em larga escala e transformar a vida de milhares de pessoas da baixa renda

Por Maure Pessanha. Originalmente publicado pelo Artemisia.

Como responder aos inúmeros desafios sociais da uma sociedade que ainda não é capaz de oferecer iguais oportunidades para todos? Como complementar e qualificar a oferta pública que, frente à complexidade, não consegue prover serviços de qualidade para que 100% da população tenha capacidade de se desenvolver plenamente, alcançando uma vida digna?

Desde o início da Artemisia, fizemos esses questionamentos com o intuito de buscar e testar modelos viáveis para endereçar os grandes desafios sociais que vivemos no Brasil — que não são poucos. O que nos levou a uma hipótese central: e se aplicássemos a lógica dos modelos de negócio — que são lucrativos, e por isso, não dependem de doações — para gerar impacto social em larga escala e dessa forma transformar a vida de milhares de pessoas da baixa renda brasileira? A partir desta reflexão, chegamos ao que hoje é o conceito que trabalhamos e disseminamos de negócios de impacto. Aos que não têm familiaridade com o termo: são empresas que oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda.

O lucro é o que difere esses negócios de iniciativas filantrópicas. E diferente de uma área de responsabilidade social de uma empresa, o impacto social está atrelado à atividade principal, ou seja, não é uma externalidade ou um projeto que anda em paralelo. À medida que o negócio ganha escala e se expande, um número maior de pessoas é beneficiado. É a inovação social aplicada a modelos de negócios que oferece abundância. Especialistas já pregam que para um empreendedor ganhar R$ 1 bilhão, basta criar uma startup que resolva o problema de um bilhão de pessoas. Estamos falando de um novo capitalismo, pautado pela consciência social unida ao lucro. Na Artemisia, usamos uma frase que resume esse conceito: “Entre ganhar dinheiro ou mudar o mundo, fique com os dois”.

Parece utópico? Longe disso. Esse conceito traz um pragmatismo que beira o convencional. Trata-se de uma lógica de mercado, de oferta e demanda, tendo o impacto social no centro da equação.

Quem está por trás dessa revolução (nada) silenciosa são os empreendedores. Pessoas inconformadas com os problemas sociais de nosso país que diariamente trabalham para desenvolver e aprimorar soluções que enderecem os principais desafios nos campos da educação, saúde, serviços financeiros, entre outros. É cada vez maior o número de empreendedores vibrantes e competentes que se dedicam a combater as principais mazelas da população de baixa renda — que hoje representa 60% dos brasileiros. Eles são o coração de todo o ecossistema dos negócios de impacto, e por isso, aqui na Artemisia, trabalhamos para apoiar a nova geração de empreendedores e negócios que têm potencial de transformar o Brasil.

Assim como ocorre nos negócios tradicionais, não existe uma fórmula de sucesso para criar um negócio de impacto social. Com base no nosso apoio aos empreendedores há 12 anos, porém, percebemos que existem dois fatores críticos e que são determinantes para o sucesso de um negócio:

1. Não seja um herói solitário. Tenha as pessoas certas ao seu lado para essa jornada empreendedora. Os problemas que um empreendedor vai enfrentar são complexos e ter uma equipe altamente comprometida é fundamental. É preciso se unir às pessoas certas, com habilidades complementares. Quanto mais competências diferentes estiverem na base do negócio, quanto mais gente boa fizer parte da startup, mais chances o negócio terá de dar certo.

2. Sonhe grande, mas seja específico no recorte do problema que se propõe a solucionar. A ambição de um empreendedor, em se tratando de negócios de impacto social, é acabar definitivamente com o problema em determinada área. Por exemplo, melhorar a educação do país. Ter essa ambição é ótimo, mas para preparar o pitch do negócio — e convencer investidores — é preciso ser extremamente realista. O ideal é identificar necessidades do mercado, verificar o que já tem sido feito nessa área e apresentar uma solução viável para oferecer um serviço ou produto com alta qualidade e menor preço.

E fica nosso convite: quando pensar em empreender, encare o desafio de olhar para os grandes problemas sociais que escondem oportunidades reais para a criação de negócios lucrativos e com propósito. Encontre a causa que o incomoda — e que ao mesmo tempo o motiva — e desenvolva soluções locais para problemas que podem ser globais. É assim que conseguiremos nos aproximar de um país no qual, um dia, todos e todas viverão com dignidade e poder de escolha.