Fintechs brasileiras ajudam população de baixa renda a superar o endividamento

Por Maure Pessanha. Originalmente publicado pela Artemisia.

No Brasil, a população de baixa renda utiliza a estratégia de endividamento como recurso para gerir o dia a dia. É uma forma de ter acesso ao consumo, além de uma saída para emergências. Em cada quatro famílias, três têm alguma dificuldade para chegar ao fim do mês com rendimentos. Entre as principais situações para o endividamento estão o consumo para prover bem-estar e conforto para a família; comprar por impulso; calote de amigos e familiares; e emergências. Na hora de quitar dívidas, o relacionamento próximo funciona como mecanismo de seleção; há a preocupação de preservar a amizade e de não fechar possibilidades de ajuda futura. Pesquisa do Plano CDE aponta que 94% das pessoas de menor renda priorizam o pagamento a familiares e amigos na hora de pensar em quitar dívidas; 41% priorizam o cartão de crédito; e 36% os bancos.

No cerne do endividamento desses brasileiros está a baixa educação financeira — uma barreira crítica para a maior inclusão da população das classes C, D e E ao sistema financeiro. A falta de informação, a renda variável, o baixo nível de escolaridade e a incompreensão das funções dos produtos financeiros são fatores que geram entraves no relacionamento desses cidadãos com as instituições bancárias.

Do outro lado da equação, a experiência da Artemisia — que conduz o Desafio de Negócios de Impacto Social: Educação Financeira e Serviços Financeiros para Todosem parceria com a CAIXA— mostra que serviços financeiros adaptados e uma educação financeira adequada podem contribuir de maneira efetiva para a melhoria da qualidade de vida da população, gerando, inclusive, a inclusão financeira de milhares de brasileiros. A análise da interação entre a população de baixa renda e os diversos serviços do setor financeiro permite identificar deficiências significativas e oportunidades consistentes para empreender negócios de impacto social associados à temática.

A falta de serviços financeiros que atendam as necessidades dos menos favorecidos socialmente e a oscilação de renda — gerada em grande parte pelo trabalho informal e a baixa rentabilidade — estão entre as principais barreiras de acesso aos serviços oferecidos pelos bancos. E, também, entre as principais oportunidades para empreender. PoupeMais (MGov), Jeitto, DimDim, QueroQuitar! e SmartMEI são exemplos de empresas de impacto social do setor que apresentam soluções com alto potencial de sucesso. Ao suprir uma demanda real, estão desenvolvendo inovações sociais transformadoras.

Os desafios são grandes, mas as oportunidades também.

O Brasil tem uma singular combinação de mercado consumidor interno enorme — é um dos cinco países com maior número de consumidores internos do mundo — e um dos piores índices de distribuição de renda. Os problemas sociais e as lacunas dos serviços públicos e privados prestados à baixa renda são a tônica dessa oportunidade de empreender, inovar e gerar impacto social.


Maure Pessanha é coempreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e disseminação de negócios de impacto social no Brasil