Evasão escolar pode ser reduzida com conteúdos que façam sentido ao aluno e despertem o seu interesse pelas aulas

O negócio de impacto Atina tem como missão combater a evasão escolar. Faz isso oferecendo conteúdos pedagógicos com os quais os alunos se identificam, despertando o seu interesse em aprender. A startup tem sido bem sucedida, especialmente em escolas públicas estaduais da Bahia, em que 90% dos professores aprovaram a metodologia e relataram maior interesse e frequência por parte dos estudantes.

Quer saber mais sobre a empresa? Então clique aqui para ler o seu perfil publicado na Kaleydos, como parte da série Negócio de Impacto em Destaque.

A Atina é uma das startups apoiadas pela SITAWI Finanças do Bem, organização social de interesse público pioneira no desenvolvimento de soluções financeiras para impacto social e na análise da performance socioambiental de empresas e instituições financeiras.

Kaleydos realizou uma entrevista com as duas organizações. Nela você entenderá os mecanismos financeiros que a SITAWI oferece a negócios de impacto e como seleciona startups para apoiar. Também entenderá em maior profundidade o negócio da Atina e suas realizações e como foi a sua experiência ao ser apoiada pela SITAWI. Boa leitura!


O que é a SITAWI Finanças do Bem e os mecanismos financeiros que vocês oferecem a negócios de impacto?

SITAWI: Temos como missão gerar impacto socioambiental positivo através da mobilização de capital. Uma das nossas principais formas de atuação o apoio a empreendedores e negócios de impacto, com soluções financeiras adequadas às suas necessidades. Nós não só apoiamos com financiamento e investimento, como também com conhecimento e acesso a uma rede de profissionais muito qualificados. Nosso impacto passa por fortalecer as organizações apoiadas e fornecer capital para que possam expandir sua atuação e tomar melhores decisões, sem ter a corda no pescoço.

Já fizemos mais de 33 investimentos, em sua maioria na forma de empréstimo socioambiental. A SITAWI foi pioneira no investimento de impacto no Brasil, tendo começado a operar de forma muito inovadora, há mais de 10 anos. Nesse caminho, buscamos desenvolver novas soluções que pudessem disponibilizar o capital certo, com as condições adequadas, para o momento de cada organização. Dessa forma, atuamos também com outros instrumentos financeiros, tais como a garantia para empréstimo socioambiental, os investimentos em dívida conversível, empréstimos coletivos (crowdlending/peer to peer lending) e, mais recentemente, apoio à emissão de títulos estruturados junto ao mercado de capitais.

De forma prática, buscamos conectar quem tem o recurso financeiro aos negócios de impacto que o necessitam, de modo a trazer um capital que seja mais paciente, barato e adequado para a realidade de cada empreendimento. Estamos sempre em busca de empreendedores que querem transformar o Brasil, diminuindo as desigualdades e contribuindo para a preservação do meio ambiente.

Que tipos de negócios vocês procuram? Quais pré-requisitos um empreendedor precisa atender para receber apoio da SITAWI?

SITAWI: É importante ressaltar que a SITAWI apoia tanto negócios com fins lucrativos quanto organizações sociais, o que é bem raro entre os investidores de impacto tradicionais no Brasil. Isso se deve bastante à nossa grande variedade de soluções. Valorizamos tanto a extensão do impacto (ex. número de pessoas atendidas) quanto a sua profundidade (ex. em que medida a vida daqueles beneficiários é transformada a partir da atuação dessa organização).

Em termos de setores apoiados, temos uma atuação bastante ampla. Buscamos organizações e negócios que nasceram para resolver um problema ambiental ou social e que tenham atuação nacional. Como trabalhamos principalmente com instrumentos de crédito (ex. empréstimos socioambientais com juros reduzidos), é importante que a organização esteja formalmente constituída, com receita recorrente e/ou previsão de resultado operacional positivo, para que possa utilizar o recurso em sua operação, crescer e fazer o repagamento. Ao longo de nossa avaliação, buscamos evidências que validem os seguintes critérios:

  • Ter em sua atividade principal a intencionalidade de geração de impacto socioambiental positivo
  • Ter seu impacto socioambiental reconhecível, tangível e mensurável
  • Possuir equipe de gestão qualificada
  • Possuir liderança com fibra ética
  • Demonstrar capacidade de repagamento e/ou crescimento

Vale ressaltar que a SITAWI é comprometida com a promoção da diversidade em suas diversas formas e, por isso, incentivamos fortemente que todos preencham nosso formulário para acesso ao capital no link – https://www.sitawi.net/finsoc_requisicao.

A missão da Atina Educação é combater a evasão escolar. Como vocês fazem isso?

ATINA: A missão da Atina é a de promover uma educação que faça sentido para a vida. Para isso, desenvolvemos um programa que é voltado para, a partir do contexto de vida de estudantes e professores, despertar o interesse pelo conteúdo que é preciso ser trabalhado em sala de aula. Ao vislumbrar sentido, perceber que aquela história que está sendo tratada é do território dele, dos familiares, dos conhecidos dele… ao perceber que o ecossistema apresentado é o de onde ele vive… ao notar que os mapas são de sua cidade, com as toponímias (ruas, rios, praias, escolas…) de onde ele mora… o estudante para e “atina” de que aquilo que ele precisa estudar em sala de aula, é a vida dele.

Na Bahia, por exemplo, os professores da rede nos pediram conteúdos contextualizados para trabalharem Química e Física.

  • Em química, nossa abordagem foi o contexto temporal: pela faixa etária – estudantes de 13, 14 anos, entrando na puberdade – apresentamos as reações bioquímicas que acontecem no corpo quando duas pessoas se apaixonam. Isso atraiu a atenção deles, porque eles sentem na pele, no corpo, se reconhecem.
  • Em física, mostramos um pescador puxando a rede para mostrar como é a Segunda Lei de Newton (ação e reação).

Tudo isso para dizer: ao ver sentido e significado, a educação passa a fazer sentido, a escola passa a ser um lugar de construção do conhecimento. Ao “atinar” que aquele conteúdo faz sentido, o status muda na hora: deixa se ser uma informação isolada, que ele precisa “decorar” para ir bem na prova, para começar a se transformar em conhecimento. Assim, com sentido, o estudante vê sentido em frequentar a escola. Pelos relatos de professores, temos um alto índice de aprovação da metodologia, na casa dos 90% (de acordo com pesquisa conduzida pela MGov na Bahia). eles apontam que houve diminuição das faltas e do aumento do interesse por parte dos estudantes.

Como surgiu essa ideia?

ATINA: Começamos fazendo mapas com imagens de satélite – no início dos anos 2000, quando houve a liberação para uso civil desse tipo de imagens em alta definição – até então restritas para uso militar. E percebíamos o grande interesse das escolas pelos mapas que produzíamos. Então, fomos a uma das escolas para entender o por que estavam tão interessados nesses mapas. A resposta foi: fazemos um estudo do meio (trabalho de campo) com os estudantes e os mapas que vocês fazem mostram muitos detalhes do que eles vêem nessa viagem: a rodovia, as montanhas, as cidades, os rios… e não há no Brasil material que trate das realidades na escala local.

Bom, então começamos a montar uma resposta estruturada a essa demanda. Como o contexto local ocupava um protagonismo grande, precisávamos de uma equipe que pudesse ir às localidades apurar as informações. Convidamos uma professora da USP, que é autora de currículos, para nos dar um norte dos conteúdos para os quais teríamos que ficar atentos. Então, chamamos jornalistas, infografistas, fotógrafos… montamos uma verdadeira redação a fim de fazer uma publicação com muito sentido, feita sob demanda para cada contexto. Aí evoluímos para a elaboração do material do professor, a formação dos professores, acompanhamento, avaliação de resultados.

Que resultados vocês notam nessa missão e como medem esse impacto?

ATINA: Na Bahia, que hoje é o nosso maior cliente, houve uma reação muito interessante. Lá, fazemos parte de um programa estruturante do governo, da Secretaria de Educação, chamado Programa Ciência na Escola. Um ano depois que nossa metodologia foi implementada, o número de trabalhos inscritos na feira de ciências do estado explodiu. A Secretaria de Educação levou o maior susto: tiveram que fazer a feira, antes realizada em uma escola, no Estádio Fonte Nova. Temos indicadores de número de estudantes alcançados pela metodologia, de professores formados. Mas, mais do que isso, o que buscamos é mensurar a qualidade desse impacto, como o número de trabalhos em feiras de ciências… embora seja muito delicado isolar um indicador, que é afetado por N variáveis, como evasão, e atribuir à nossa participação – há evidências, mas não podemos afirmar que somos responsáveis pela diminuição da evasão ou desempenho em avaliações – há muita complexidade envolvida nesses indicadores.

Vocês recebem apoio da SITAWI Finanças do Bem. Qual tem sido a importância desse apoio?

ATINA: A SITAWI é uma parceira muito valiosa. Observamos que, depois do apoio que recebemos, tivemos que rever vários processos, estruturar melhor nossa entrega e a Atina como um todo. Não porque precisávamos prestar contas de forma sistemática. Isso fez com que revisássemos todo o nosso processo. Hoje, todo projeto começa com a questão fundamental: qual é o seu objetivo final? Aí, de trás pra frente, vamos pavimentando esse espaço de uma forma muito bem estruturada a fim de atingir o(s) objetivo(s) que nos propusemos. Mais do que isso, porque vimos que uma estrutura mais bem organizada nos ajudava a fazemos um melhor planejamento, termos mais controle das nossas entregas, termos estruturada uma operação mais profissional.

O que despertou interesse na Atina para que lhes dessem esse apoio?

SITAWI: Através de nossas análises da organização e forma de atuação, entendemos que uma das grandes dificuldades enfrentadas na sala de aula se dá no engajamento dos alunos em aprender um conteúdo que não conversa com suas realidades. O conteúdo transmitido, sendo desconectado da vida cotidiana da maioria dos estudantes, se apresenta como uma grande barreira ao aprendizado.

Vimos na metodologia de trabalho da Atina, focada tanto na produção e distribuição de materiais contextualizados com auxílio de equipes de especialistas nos diversos temas, quanto na capacitação dos professores na utilização destes materiais de forma alinhada com a Base Nacional Comum Curricular, um excelente potencial para motivar os estudantes a se engajarem mais em seus estudos, a conectarem os conteúdos com suas realidades e a perceberem os benefícios trazidos pela educação. Entendemos que a metodologia teria grande potencial de elevar estes jovens alunos ao patamar de protagonistas de suas próprias realidades além de promover grandes mudanças sistêmicas na educação e nas realidades que circundam estes estudantes.

A SITAWI, entendendo que poderia potencializar a geração de impacto positivo atuando em parceria com a organização, efetuou o apoio financeiro necessário para as operações da Atina e vem auxiliando a organização e sua equipe com expertises específicas de impacto, negócios e acesso à rede de parceiros.

Esperamos que, através de nossa parceria, possamos apoiar o negócio a alcançar cada vez mais estudantes e transformar mais profundamente as suas realidades através dessa metodologia inovadora.