Se você está na faixa dos 30 anos deve se lembrar das Comunidades do Orkut, onde milhares de pessoas se identificavam com o título da página e logo estavam fazendo parte dela. Se você perdeu essa referência, te explicamos: basicamente, elas eram páginas no estilo fórum (com diversos tópicos abertos pelos membros) em que os usuários entravam e desenvolviam conversas em vários níveis e em todas havia um denominador comum: o reconhecimento e a sensação de pertencimento.

Mesmo em um grupo digital, com pessoas “desconhecidas”, os membros se sentiam parte de algo e criavam conexões uns com os outros por conta daquele assunto em comum, seja ele uma banda, um livro, um filme, uma escola ou até um sentimento como o “Só 5 minutinhos” que se referia ao desejo de dormir um pouco mais quando o despertador toca.

Parece um exemplo simples, mas é um claro exemplo de como um espaço dedicado pode unir milhares de pessoas.

Quase 20 anos depois, o Facebook agora cria espaços seguros em sua plataforma que promovem discussões e compartilhamento de conhecimento entre usuários que têm gostos e vivências em comum. Recursos como compartilhamento de vídeos e enquetes engrandecem a experiência e permitem interações com diferentes níveis de público. Compreendendo o poder de transformação que essas comunidades têm, o Facebook começou a lançar iniciativas com o intuito de fortalecer a utilização dessas comunidades para movimentar e transformar a realidade de milhares de pessoas.

A convite do Quintessa e do Facebook, a Kaleydos participou, no dia 07 de outubro, do lançamento da Aceleradora de Comunidades do Facebook. Por meio de treinamentos, acesso a novos produtos e fundos de até US$ 50 mil para auxiliar em custos das iniciativas, o programa visa ajudar líderes a aproveitar o poder das comunidades para colocar ideias em prática e movimentar seu público.

O evento aconteceu online e reuniu organizações do ecossistema de impacto e líderes das Comunidades selecionadas para participar da primeira aceleração. Durante uma hora foram apresentados os objetivos do programa, a potência e a atuação das comunidades presentes, além de conversas individuais nas quais os participantes tiveram a oportunidade de conhecer a história e o impacto de algumas das comunidades selecionadas.

 

A democratização do acesso à cultura na favela do Rio

A nossa primeira conversa foi com Ocimar e Mônica, do Rocinha.org, uma organização não governamental com a missão de inclusão sociocultural, fomento a arte e cultura e formação de plateia profissional com apoio de empresas, produtoras e instituições.

Ocimar Santos, idealizador e presidente, é nascido e criado na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, e usa sua vivência como propulsor da movimentação social que realiza. Com poucas oportunidades de acesso à arte e cultura, e tendo pisado em um teatro apenas com quase 30 anos, Ocimar quis levar essa experiência para mais moradores, mas na época ainda não sabia como. Foi em 2005, com 42 anos, que ao comprar seu primeiro computador, ele criou o Rocinha.org para contar para o mundo as potências e boas histórias da Rocinha.

 “Começamos a falar bem dos projetos desenvolvidos na favela, dos nossos artistas. A partir daí o fluxo de comunicação virou e o mundo quis conhecer e falar com a gente. Surgiram empresas, grupos de teatro e organizações que queriam ajuda para distribuir ingressos e convites de espetáculos para a galera da favela. Então, começamos a fazer a ponte”, diz Ocimar. Hoje são mais de 80 voluntários, dentre eles, Monica Junqueira, que soma experiências internacionais, é especialista em branding e encontrou na organização um propósito maior ao qual se engajou em seu crescimento e agora é membro da diretoria.

Para aumentar o alcance e dar vazão a todas as oportunidades que chegam à ONG, a Comunidade no Facebook virou uma ferramenta importante e um canal de comunicação direto. Atualmente a Rocinha.Org | Comunidade Cultural possui mais de 50 mil membros de diversas favelas do Rio de Janeiro e promove a divulgação e distribuição de milhares de ingressos gratuitos de eventos artísticos, todos oferecidos por empresas e organizações parceiras. A Comunidade possui um grupo de administradores voluntários que são treinados pela ONG para apoiar os membros e garantir um ambiente seguro e de boa convivência.

“Nós somos literalmente cumpridores de leis e utilizamos elas a favor da promoção da cultura. Existem diversas leis de incentivo e programas que precisam ser cumpridos e muitas vezes as organizações não sabem como fazer acontecer. Assim, por meio desse ‘cumprimento da lei’, conseguimos inserir milhares de pessoas em experiências culturais, que provavelmente elas não teriam oportunidade de vivenciar de outras formas. Somos uma ponte de oportunidade em arte e cultura e essa aceleração chega para nos fortalecer ainda mais”, afirma o presidente da ONG.

 

Comunidade digital no fomento do empreendedorismo

Em sequência, conhecemos uma comunidade com bastante conexão com a Kaleydos. Com o objetivo de apoiar e preparar nano, micro e pequenos empreendedores (principalmente mulheres) para o mercado, foi criada a comunidade “Empreender – Agora VAI”.

A iniciativa faz parte da Youngers, uma startup social curitibana que atua no fomento da geração de renda de jovens e da comunidade por meio de diálogos, Jornadas ao Trabalho e Aceleração de Negócios que abordam desde assuntos técnicos, soft skills até apoio terapêutico para que as participantes não desistam do processo. Mas o ambiente de aprendizado ficou pequeno e precisou crescer e se manter online e conectado.

Geovana Conti, fundadora e CEO da Youngers (Y), compartilhou como foi a conexão com o público por meio da plataforma: “Nosso público está todo no Facebook. São pessoas que estão diariamente na rede, compartilhando, conversando, buscando informações. Nós precisávamos estar presentes ativamente também e a Comunidade foi um canal para transbordar as experiências para todos os nossos membros, inclusive os que não participaram ainda dos nossos programas”, diz a CEO.

A Empreender – Agora VAI, produz e compartilha conteúdos, dicas, informações, agenda de eventos e promove conversas sobre empreendedorismo e toda a jornada de desenvolver um negócio próprio. Já são mais de 38 mil membros e, segundo a fundadora, 10% deles consomem efetivamente os conteúdos postados e estão ativos.

Participar da aceleração será um momento de conhecimento, conexão e uma possibilidade de ampliar o mercado da startup. “Com o valor investido pelo programa, vamos implementar o nosso primeiro produto B2C, permitindo que mais pessoas tenham acesso ao aprendizado e desenvolvimento das nossas jornadas”, conta Geovana.

A startup também já realizou projetos com grandes empresas e recentemente foi uma das ganhadoras do Programa de Aceleração ‘Meu Bolso em Dia’, realizada pela FEBRABAN.

 

O que podemos levar para os negócios?

O desenvolvimento de comunidades vem se tornando cada vez mais forte e uma estratégia quase obrigatória para todos os tipos de empresas e marcas por conta de seus inúmeros benefícios.

Uma comunidade bem construída e engajada endossa a marca, colabora diretamente com as melhorias e criações da organização, gera valor agregado, permite a identificação de interesses e valores do grupo, une pessoas com um mesmo propósito e desenvolve os chamados “advogados da marca” que defendem e promovem a empresa, de forma positiva, organicamente

Mas é claro, para funcionar é preciso ter uma estratégia para o marketing de comunidade, alimentar bem a comunidade (conteúdos de formatos diferentes e temas relevantes), provocar discussões saudáveis, fazer ações com o grupo, nomear administradores e gestores para organizar as discussões e verificar seguimento de diretrizes).

E não é necessário, obrigatoriamente, utilizar o Facebook para isso. Grupos de WhatsApp, Telegram, fóruns, relacionamentos em redes sociais são canais viáveis (e gratuitos) de se construir esse vínculo. O essencial na realidade é se manter ativo, próximo a comunidade, compreender suas expectativas e necessidades e sempre promover experiências que gerem o sentimento de pertencimento.

Você já pensou em criar uma comunidade para o seu público?