Do ICE

A realização do 1º Fórum de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia (FIINSA), em meados de novembro, mostrou o quanto os negócios de impacto já despontam no norte do país como solução para ajudar a manter a floresta em pé. Aos poucos, o pipeline da região vai se estruturando e ganhando corpo. Durante o FIINSA, por exemplo, uma rodada de negócios desembolsou mais de R$ 1 milhão para negócios de impacto.

Os empreendimentos apoiados são parte de outra frente importante para o ecossistema regional: o mapa de negócios de impacto da Amazônia, organizado a partir de uma chamada de investimentos da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA). O levantamento revelou um universo inicial de 81 negócios nas mais diversas áreas: tecnologia verde ligada à promoção de agricultura e pecuária sustentável, manejo florestal sustentável e valorização dos produtos da sociobiodiversidade, combate ao tráfico de animais e à exploração madeireira ilegal, além de projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Desse levantamento foram selecionados 15 negócios, que participaram do Programa de Aceleração PPA 2018. Quatro deles participaram da rodada de negócios no FIINSA: Encauchados de Vegetais da Amazônia, Manioca, Peabiru Produtos da Floresta e Ração+. Os demais apresentaram seus negócios a uma banca, em estilo pitching, e quatro foram selecionados pelo Prêmio Empreendedor PPA, recebendo R$15 mil cada.

Um dos co-investidores da PPA, a Conexsus, que lançou o Laboratório de Investimento Negócios de Impacto Socioambientais durante o FIINSA, mapeou, em 2018, 396 iniciativas comunitários na Amazônia. Os empreendimentos estão ligados a apicultura, aquicultura e pesca, artesanato, extrativismo vegetal, horticultura, lavoura permanente e temporária, produção animal e silvicultura.

Outra iniciativa que também ajudou a mapear o campo do impacto na Amazônia neste ano, a Climate Ventures realizou a 1ª Chamada de Bons Negócios pelo Clima, em parceria com a Climate Launchpad e a Pipe Social. Um diagnóstico inicial aponta que negócios que trazem soluções em economia da floresta ou energias renováveis muitas vezes não se enxergam como negócios de impacto ou negócios pelo clima. A chamada analisou ao todo, 315 negócios. Na região norte, que concentra 18% do total de negócios mapeados (57), as iniciativas relacionadas à floresta são maioria.

No levantamento não entraram negócios que já estão transacionando, e 40% dos que compõem esse portfólio ainda não tem faturamento. Alguns faturam até R$ 100 mil, e outros chegam a pouco mais de R$ 1 milhão. Praticamente metade da base está buscando aceleração e investimento. Dos que estão captando, uma maioria busca até R$ 500 mil.

“A economia do desmatamento relacionada ao uso da terra está tão bem estabelecida na Amazônia que é muito difícil ir contra. Qualquer negócio que se proponha a gerar retorno financeiro, com uma economia de restauração e produção dissociada do desmatamento, já é em si extremamente inovador. E inovação sempre tem risco. Quando não se tem uma fonte de apoio financeiro a fundo perdido, o investidor tem que estar disposto a correr riscos”, avalia Mariano Cenamo, pesquisador sênior do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (IDESAM) e coordenador da PPA.

Desafios e oportunidades do tamanho da Amazônia

O estudo Investimento na Amazônia: Caminhos para o desenvolvimento sustentável, realizado pela SITAWI Finanças do Bem com apoio da USAID, CIAT, IDESAM e PPA, foi lançado durante o FIINSA. O material aponta que novas soluções, baseadas em modelos de negócios inovadores, precisam ser criadas e introduzidas na Amazônia, permitindo o aumento de renda na região sem degradação ambiental.

O objetivo de longo prazo seria justamente alterar o perfil de atividade econômica na região. Investimentos com intencionalidade de impacto socioambiental positivo e resultados financeiros seriam uma forma de operar essa transformação.

Dentre os desafios listados pelo estudo, estão: (1) a pouca disponibilidade de capital de impacto, (2) a necessidade de políticas públicas que atendam às necessidades das comunidades produtivas da região, (3) a qualificação associada a pesquisa e desenvolvimento, (4) necessidade de ampliar iniciativas de incubação e aceleração de negócios, (5) necessidade de maior conexão entre os atores do ecossistema, (6) logísticas e infraestrutura, (7) violência no campo, (8) necessidade de mudança da cultura empreendedora em relação à pecuária e madeira, (9) alavancar mais negócios na chamada ‘Amazônia profunda’ com mais envolvimento das comunidades tradicionais.

Já as oportunidades incluem: (1) público crescente disposto a consumir produtos com a marca Amazônia e ligados à sociobiodiversidade, (2) novos recursos e modelos de financiamento chegando, (3) uma nova geração que assume os negócios com olhar mais apurado para estas questões e aberta a mudar.

“Precisamos de negócios que solucionem problemas ambientais e sociais urgentes, em especial na Amazônia. Por que negócios de impacto? Porque não é possível proteger a floresta sem melhorar a qualidade de vida das pessoas”, resume Mariano do IDESAM.