Co-fundadora da Pipe.Social explica os resultados do 1o Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental

No meio de junho, a Pipe.Social lançou a pesquisa 1º Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental. A iniciativa contou com o apoio de diversas organizações do ecossistema de impacto brasileiro, incluindo a Kaleydos.

Entrevistamos Mariana Fonseca, co-fundadora da Pipe.Social, que comentou alguns dos resultados e insights da pesquisa. Você pode ouvir a entrevista abaixo, no Youtube ou no SoundCloud. A seguir, resumimos alguns dos pontos principais que ela abordou.

https://soundcloud.com/user-327193163/mariana-fonseca-da-pipesocial-comenta-o-cenario-dos-negocios-de-impacto-no-brasil

Existe um mercado ativo de negócios de impacto no Brasil…

Negócios de impacto são uma tendência mundial. O mapa mostra que o Brasil já acompanha essa tendência e que o setor está ativo em nosso país.

Segundo Mariana:

Já existe um mercado ativo, um mercado que emprega pessoas, um mercado que tem negócios que já faturam bem e já tem uma massa grande que está olhando para esse universo de negócios de impacto como um futuro mesmo. Os millenials e várias pessoas hoje procuram trabalhar com propósito, trabalhar com o que faz sentido. A gente vê isso muito na pesquisa com o crescimento desses negócios, das pessoas estarem buscando ganhar dinheiro, mas também resolver problema grande.

Este crescimento se apresenta em todas as áreas, não apenas nas mais tradicionalmente associadas a impacto social, como educação e saúde. Apresenta-se também nas finanças sociais, acompanhando o crescimento das fintechs no Brasil. E nas tecnologias verdes, como em energia solar e acesso à água tratada.

… contudo, é preciso amadurecer este mercado

Apesar de acompanhar esta tendência mundial, alguns dados da pesquisa mostram que o setor ainda precisa amadurecer no Brasil.

A maior necessidade é resolver o gap que existe entre as expectativas de empreendedores e investidores. A maioria dos negócios precisa de investimentos em seus estágios mais iniciais, quando ainda estão atravessando o assim chamado “vale da morte”. Porém, os investidores brasileiros estão mais dispostos a investir seu capital em empresas que já estão escalando e faturando alto.

Sobre isso, Mariana diz:

A gente vê na pesquisa que a maioria [dos empreendedores] está pedindo entre R$ 100 e R$ 200 mil de investimento, que é um investimento pequeno para um fundo, por exemplo, ou para um investidor maior, um VC [Venture Capitalist]. E os investidores que estão com mais recursos para investir estão esperando os negócios mais parrudos. Então, acho que o primeiro desafio é esse: como é que a gente cria mecanismos e soluções para ajudar esses negócios mais cedo, nos estágios mais iniciais da jornada, para que eles sobrevivam a esse processo inicial, que é mais difícil mesmo?”

Outra necessidade é adotar com mais força algumas tecnologias de ponta, como blockchaininteligência artificial, deep learning, Internet das Coisas e Big Data.

Tem tanta, tanta inovação no mercado e a gente vê que ainda, no olhar dos negócios de impacto, ainda tem oportunidade pra usar isso. Os negócios, talvez por estarem ainda nos estágios iniciais, ainda não estão usando esse tipo de tecnologia para pensar a escalabilidade dos seus negócios e obviamente aumentar o impacto que eles geram.”

Mensuração de impacto: difícil, cara e nem todos atentam para a sua importância

Parte fundamental das atividades de negócios de impacto é medir, com clareza e precisão, o impacto social e/ou ambiental que eles produzem. Porém, um dado que chama a atenção no mapa é o de que 31% dos negócios ainda não definiram indicadores de impacto para medir. E 28% não acham isso necessário.

Por que isso acontece? Mariana explica:

Acho que esse é um tema muito importante que o ecossistema mesmo, todos os atores que ajudam esses empreendedores, têm buscado soluções e estão tentando facilitar o processo. Acho que tem algumas questões para falar dentro deste tema. O primeiro é que medir impacto do jeito ideal é caro, demorado e é difícil para empreendedores nos primeiros estágios. A gente ainda precisa de ferramentas mais simples e formatos e talvez ajuda na forma de desenhar essas métricas de impacto (…) para esses negócios nos estágios mais iniciais, que não têm condições de fazer uma contratar uma auditoria externa. Ou de trabalhar umas ferramentas que tem já no mercado, mas que são caras e complexas de usar. Então isso é uma questão que a gente tem buscado encontrar soluções e tentado criar no ecossistema ajudas nesse sentido”.

Já em relação aos negócios que não acham necessário medir o seu impacto, a razão é outra. Segundo ela, alguns empreendedores consideram óbvio qual é o impacto exercido. Isso acontece, por exemplo, entre alguns empreendedores na área da educação. Pode-se imaginar que, ao facilitar o acesso ao aprendizado, o seu impacto já está definido na quantidade pessoas atendidas.

Por outro lado, quando você vê esses empreendedores dizendo que não acham tão importante medir, além desse desafio no começo, também tem ainda uma cultura de negócios de impacto que precisa ficar mais solidificada.

Neste ponto, os investidores podem ajudar o empreendedor a medir melhor o seu impacto.

“(…) quando eles [os investidores] trazem esses recursos, eles ajudam esses empreendedores a medir esse impacto de forma mais qualificada. Pode ser uma das aplicações para esse recurso quando eles investem. Mas, sim, todos os investidores que se dizem investidores de impacto, eles vão cobrar deles alguma métrica, algum acompanhamento nesse sentido, sim.

Quais são as maiores oportunidades em negócios de impacto no Brasil?

Mariana menciona algumas oportunidades esclarecidas pela pesquisa.

Uma delas é a o que já se mencionou acima: uma adoção mais sólida de tecnologias de ponta, já presentes no Brasil e em startups. Mas não tão presentes ainda especificamente em negócios de impacto. Outra oportunidade, para os atores do ecossistema, é criar ferramentas e formas de financiar e apoiar negócios em estágios iniciais.

Outra oportunidade está na área da comunicação:

Os empreendedores pedem ajuda em questões bastante interessantes. Por exemplo, a gente teve uma demanda alta em comunicação. Interessante ver como talvez pensar produtos e soluções para ajudar esses empreendedores a comunicar melhor os seus produtos e seus resultados pode ser também uma oportunidade para o ecossistema e não só para os empreendedores.

Mas a maior oportunidade de todas é simplesmente pensar nos muitos problemas do Brasil como oportunidades para se criar negócios que os solucionem.

(…) Para os empreendedores em geral, o que a gente brinca, e que é sério, mas que por outro lado também é muito bom, é que o Brasil é um país cheio de problemas. Então você começar a pensar que esses problemas são oportunidades de negócio pode ser bastante interessante. Para você ver, por exemplo, na área de transparência e acompanhamento de informação, por exemplo, blockchain é uma ferramenta super interessante. Então, para negócios em cidadania, que exigem transparência, acompanhamento, traqueamento de informação, que lidam com o governo, pode ser bem interessante. A gente vê também o universo de sensores, um crescimento na área de Internet das Coisas no mundo e esses sensores também nos ajudam a acompanhar vazamento de água, questões de energia, questões de segurança, então tem muita coisa, muita coisa legal que dá para ir para este mundo de negócios de impacto.

Quer saber mais? Acesse o site da Pipe.Social e baixe o 1o Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental.