Equity crowdfunding se destaca como um modelo viável de financiamento de negócios de impacto e já há casos de sucesso no Brasil

Negócios de impacto buscam concretizar o sonho de causar transformação social e ambiental e ao mesmo tempo gerar lucros. Como qualquer outro negócio, requerem investimentos para serem bem sucedidos. Hoje vamos falar sobre uma moderna modalidade de investimentos, que tem crescido no Brasil e no mundo, o Equity Crowdfunding.

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Marcel Fukayama

Entrevistamos um especialista no tema, Marcel Fukayama. Marcel é empreendedor social e co-fundador da Din4mo, empresa que fortalece negócios de impacto por meio de programa de gestão, governança, capital e networking.

Você pode ouvir a entrevista a seguir, no Youtube. Mais abaixo, pode ler os principais pontos abordados.

O que é Equity Crowdfunding?

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Photo credit: Rocío Lara via Visual Hunt / CC BY-SA

Crowdfunding todo mundo conhece. É a modalidade de financiamento coletivo e distribuído, em que qualquer pessoa pode financiar um projeto do seu interesse. Segundo o entrevistado, “a expectativa é que este ano o volume de recursos em financiamento distribuído coletivo possa ultrapassar o volume de recursos que venture capital tem levantado em todo o mundo”.

Mas e o Equity Crowdfunding, o que é?

Marcel explica:

Há uma modalidade específica chamada equity crowdfunding, ou crowd equity. Que, através de financiamento coletivo, pessoas podem adquirir uma participação em um negócio. No Brasil, a plataforma Broota é uma das pioneiras nesse sentido. Há outras plataformas. O Equity Crowdfunding funciona com um formato de sindicatos. Ou seja, clubes de investimento dentro dessa plataforma mobilizam investidores para fazerem financiamento coletivo e distribuído nestes projetos ou negócios. Com isso, diversos investidores passam a fazer parte do negócio.

Ou seja, se no crowdfunding o indivíduo doa o seu dinheiro a um projeto ou causa, no equity crowdfunging ele se torna sócio de uma empresa. Com a vantagem de poder fazer isso com investimentos relativamente baixos (por exemplo, R$ 1.000,00).

Programa Vivenda: caso de sucesso no Brasil

Programa Vivenda é caso de sucesso em equity crowdfunding no BrasilMarcel descreve o Programa Vivenda como um caso de sucesso em equity crowdfunding. O processo foi liderado pela própria Din4mo. Trata-se de uma empresa que oferece reformas de baixo custo em casas de famílias de baixa renda, associadas a um financiamento que cabe no bolso do seu público-alvo. Assim ajudando a resolver o problema de moradias insalubres, ou o déficit qualitativo de moradias. Já falamos algumas vezes sobre este projeto no Kaleydos. Leia todas as notícias relacionadas neste link.

Ao longo de um período, a Din4mo liderou o processo. Ou seja, fez toda a construção do deck de investimentos. Que é o prospecto para o investidor, com informações do negócio. Validou nos órgãos competentes, como a CVM. Iniciou o processo de mobilização e articulação de investidores na plataforma, fez a gestão e acompanhamento. E após esse processo de investimento a gente se compromete, ao longo de cinco anos, a fazer o que a gente chama de RI, ou o Relacionamento com o Investidor. E, periodicamente, publicar relatórios de impacto e financeiro sobre o investimento. Neste caso, com a liderança da Din4mo, nós comprometemos o valor de R$ 100.000 para o investimento e é feita uma rodada privada. Ou seja, investidores são mobilizados privadamente na plataforma a mobilizarem e investirem recursos. Quando nós chegamos próximos a R$ 500.000 de investimento total, nós abrimos para uma oferta pública. Neste caso, 4 mil investidores da plataforma Broota tiveram acesso à rodada pública. Em pouco menos de 8 horas, fechamos a rodada pública e R$ 750.000 foram levantados para o Programa Vivenda investir e estruturar a expansão para os próximos territórios e ofertas de kit de reforma nessas comunidades.

O que a Din4mo pode fazer pelo empreendedor e investidor?

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Photo credit: ValueWalk via Visual hunt / CC BY-SA

Perguntado sobre o papel da Din4mo ao lado de empreendedores e investidores de impacto, Marcel respondeu:

A Din4mo tem como principal objetivo usar os negócios para redução da desigualdade social. Particularmente alinhado com o ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) número 10 [nota do editor: redução das desigualdades]. Com isso, a gente acredita que negócios podem reduzir a desigualdade sob certas condições. Primeiro, quando reduzem a vulnerabilidade nas comunidades. Segundo, quando ajudam famílias a construírem ativos produtivos, como educação, geração de renda. E, terceiro, quando reduzem o custo de transação para famílias de baixa renda.

Com isso, a gente tem como objetivo primeiro fortalecer empreendimentos de alto impacto. Então, através de um programa de fortalecimento de gestão, a gente oferece gestão, governança, capital, networking para diversos empreendimentos alinhados com essa tese de impacto.

O segundo objetivo é desenvolver estruturas inovadoras e distribuídas de investimento de impacto. Então a gente direciona recursos e capital para empreendimentos ampliarem impacto e escala. Empreendimentos, particularmente no estágio de desenvolvimento de grande eficiência e escaláveis. Ou seja, já são empreendimentos com mais tração e com mais capacidade de validação de hipóteses do seu negócio.

Desafios para o equity crowdfunding no Brasil

O equity crowdfunding ainda é pequeno no Brasil. Como ele pode se desenvolver? Que desafios precisa enfrentar? Segundo Marcel:

Acho que os principais desafios para o crescimento do equity crowdfunding no Brasil passam por desenvolver um ecossistema, ou seja ainda há uma carência grande de projetos qualificados para receberem investimento e principalmente maior nível de governança. Essa é a maior dor na pesquisa que fizemos com mais de quatrocentos investidores na plataforma de equity crowdfunding. Estes investidores percebem que a governança é importante para ampliar a transparência na prestação de contas. Por outro lado, os empreendedores investem muito pouco em projetos de governança dos seus empreendimentos. Então esse pode ser um obstáculo e com isso reduzir o direcionamento de capital, por que o risco ainda é muito grande. E, sem capital, projetos acabam não se qualificando, e não ganhando maturação, porque não conseguem cruzar o que a gente chama de vale da morte. Ou seja, levam de dois a três para conseguirem ganhar tração. E, sem capital, não conseguem fôlego para chegar até o outro lado desse vale.

Como as regulamentações governamentais podem ajudar ou atrapalhar o setor

A regulamentação do equity crowdfunding está em andamento no Brasil. É um tema importante, pois regulamentações tanto podem dar mais segurança jurídica a investidores e empreendedores, como podem engessar este método de investimento.

Para Marcel:

Nesse momento, as regulações ainda são bastante insipientes. A CVM tem trabalhado para fortalecer a gestão e governança através de instruções normativas. Isso é importante para poder regular o mercado, mas ainda tem uma oportunidade grande de aprimorar, em especial, instrumentos de gestão e governança nesse processo. A gente percebe que, conforme o mercado vai crescendo, a importância de organismos reguladores, como a própria CVM, e eventualmente o Banco Central… são atores importantes para criarem as primeiras regras do jogo. O grande entrave que pode acontecer é que eventuais regulações podem exigir que plataformas de crowd equity se tornem instituições financeiras. Isso pode inviabilizar o setor e eventualmente até atrofiá-lo. Por que, ao se tornar uma instituição financeira, a plataforma vai passar a exigir e a ter que se submeter a uma série de procedimentos, em que o custo de transação do processo de capitação pode se inviabilizar. Então, isso é um risco que a regulação pode levar essas plataformas. E é importante que as regulações permaneçam tornando essas plataformas como arranjos de pagamento, como hoje elas são consideradas, e com isso facilitar o processo de conexão entre empreendedor e investidor.

Para saber mais sobre como se tornar um investidor de impacto, recomendamos a leitura deste artigo.