Da Pipe.Social
Uma rodada de negócios que vai desembolsar R$ 1,1 milhão para aceleração de quatro pequenos negócios sustentáveis com base na Amazônia encerrou, no último dia 14 de novembro, o 1º Fórum de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia (FIINSA). Outros quatro receberam o Prêmio PPA com investimento de R$ 60.000,00 para alavancar quatro negócios: Sustente, Onisafra, Da Tribu e Broto.
O encontro, que reuniu grandes empresas, investidores, ONGs e empreendedores de estados amazônicos promoveu uma competição em que representantes das quatro empresas selecionadas entre mais de 80, enfrentaram o desafio de apresentar seus negócios em apenas 5 minutos para investidores como Sitawi, Nesst, Conexus, Bemol e para a plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA).
Além de apresentar seus negócios “ao vivo” , os empreendedores da Encauchados de Vegetais da Amazônia, Manioca, Peabiru Produtos da Floresta e Ração+ tiveram que responder aos questionamentos dos “sharks” (tubarões), que foram bem detalhistas – queriam saber de planos de crescimento a como iriam aumentar seu impacto socioambiental. Depois da sessão de negociação, os empreendedores saíram felizes e com muitos aplausos da plateia. Joanna Reis, fundadora da Manioca, que trabalha com alimentos de alta qualidade, ficou emocionada ao receber o investimento: “É toda uma história para chegar aqui. Muito obrigada. Posso prometer que toda a equipe da Manioca estará muito focada em trabalhar nisso”, disse receber a proposta de investimento de R$200mil.
Aprendizados
Dentre os desafios apontados, estão: (1) a pouca disponibilidade de capital de impacto, (2) a necessidade de políticas públicas que atendam às necessidades das comunidades produtivas da região, (3) a qualificação associada a pesquisa e desenvolvimento, (4) necessidade de ampliar iniciativas de incubação e aceleração de negócios, (5) necessidade de maior conexão entre os atores do ecossistema, (6) logística e infraestrutura, (7) violência no campo, (8) necessidade de mudança da cultura empreendedora em relação à pecuária e madeira, (9) alavancar mais negócios na chamada “Amazônia profunda” com mais envolvimento das comunidades tradicionais.
Já as oportunidades incluem: (1) público crescente disposto a consumir produtos com a marca Amazônia e ligados à sociobiodiversidade, e conservação da biodiversidade (2) novos recursos e modelos de financiamento chegando, (3) uma nova geração que assume os negócios com olhar mais apurado para estas questões e aberta a mudar.7
“A realização de um evento como o FIINSA em Manaus é muito importante. Normalmente os eventos dessa natureza são realizados no sudeste, ou em Brasília. Esse Fórum abre uma agenda que deve ser tornar cada vez mais perene e contribuir mais e mais para que investimentos de impacto e negócios sustentáveis tenham condições para se desenvolver na Amazônia”, afirma Mariano Cenamo, do Idesam e coordenador da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), promotora do FIINSA.
A Amazônia gera menos de 8% do PIB de todo o Brasil, e os negócios de impacto podem ajudar a virar esse jogo e ainda proteger a floresta. O que não será possível sem melhorar a vida das pessoas que nela vivem.
No FIINSA, entre 13 a 14 de novembro, estiveram reunidas mais cerca de 290 pessoas de diversos estados da Amazônia para debater investimento negócios de impacto na região, buscando a conexão entre os atores desse ecossistema: empreendedores, investidores, aceleradoras, incubadoras, empresas, institutos, fundações e academia. Todos com o mesmo propósito de fomentar e alavancar negócios focados na valorização da sociobiodiversidade na conservação da biodiversidade, envolvendo comunidades tradicionais e buscando novos paradigmas para o desenvolvimento territorial sustentável.
Deste público, cerca de 80% veio a Manaus em busca de conexões e networking e mais de 50% já fez negócios na Amazônia. O FIINSA deve ter uma próxima edição em 2019 ou 2020, e até lá o desafio é manter a conexão permanente entre todos para o fortalecimento do campo.
Palestras
Também durante o FIINSA foi lançado o estudo Investimento de Impacto na Amazônia – Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável, que buscou identificar mecanismos de investimento, tipos de empreendimento, cadeias de valor, obstáculos e oportunidades ao investimento na região.
“É preciso atrair mais atores, que precisam ser mais realistas para lidar com as especificidades da região”, explicou Leonardo Letelier, da Sitawi, que realizou o estudo.
Investidores querem escala, valor, tecnologia, inovação e impacto. Além, e claro, de retorno financeiro. Para os empreendedores, o importante e o compromisso de quem investe com o negocio nascente, como explicou Laurent Micol, da Pesca (especializada em recuperar pastos degradados e promover pecuária sustentável em Mato Grosso): “A gente se embala, quer fazer uma coisa grande, com os indicadores que o investidor quer ver. Mas se pudesse começar de novo, faríamos a metade dos 10 mil hectares que temos hoje, no dobro do tempo”.
A marca Amazônia também foi lembrada como uma grande oportunidade, mas para Raphael Medeiros, diretor-executivo do Centro de Empreendedorismo da Amazônia “os produtos têm que ser bem vestidos (embalagens) e ter certificação”. Pela distancia, chegam mais caros aos mercados, mas o foco tem que ser o impacto socioambiental e a qualidade que chega ao consumidor”. Depois de vários ciclos de exploração de recursos naturais que não deixaram riqueza, “esta claro que o caminho e o do comercio justo, com impactos positivos sobre a floresta e sobre as pessoas”.