Co-fundador da Din4mo explica como a governança corporativa ajuda startups de impacto a triunfar

Uma grande ideia de negócio é importante, mas não é tudo. A execução é tão importante quanto uma solução inovadora e relevante e um modelo de negócio bem estruturado. Muitas startups de grande potencial deixam de atingi-lo por razões mercadológicas, societárias ou de regulamentação. E assim enfrentam dificuldades de crescimento devido a desalinhamentos entre os sócios a respeito de temas estratégicos do negócio.

Por isso, em startups de qualquer tamanho e em qualquer estágio da jornada do empreendedor, é importante aplicar princípios de governança corporativa para que ele cresça consistentemente e atinja o seu potencial pleno. Além disso, a governança ajudará a alavancar valor para a empresa e a estruturá-la para captar recursos de investidores. No caso de negócios de impacto, especificamente, também ajudará a gerar o impacto social e/ou ambiental desejado pelos empreendedores.

Kaleydos conversou com Marcel Fukayama, co-fundador da Din4mo e diretor executivo do Sistema B Internacional, que nos explicou a importância da governança corporativa para negócios de impacto. Confira abaixo e boa leitura!

O que é governança corporativa

Segundo a definição do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC): “governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas”.

Marcel complementa: “em uma empresa, [governança] pode ser definida pelas regras do jogo em âmbitos como a relação societária, papéis e responsabilidades e fóruns de gestão e acompanhamento.”

A governança corporativa se baseia em quatro pilares:

  1. Transparência: disponibilidade de informações do interesse dos stakeholders;
  2. Equidade: tratamento dos stakeholders por igual;
  3. Responsabilidade corporativa: zelo pela viabilidade econômica sem perder de vista as externalidades, ou efeitos indiretos, que o um negócio tem, social e ambientalmente;
  4. Prestação de contas: por meio de reportes tempestivos, claros, concisos e compreensíveis.

São princípios que devem ser observados pela startup desde a sua fundação, mesmo que ela desenvolva a sua governança aos poucos, conforme o negócio se torna maior e mais complexo.

Para entender um pouco mais a definição de governança corporativa, indicamos assistir ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=NBMDis6MJ7M

Governança para negócios de impacto: o que ela tem de diferente?

Uma vez que um negócio de impacto, além de gerar retorno financeiro, também visa gerar impacto social e/ou ambiental positivo, essa dupla preocupação também se reflete na sua governança.

“A governança ajuda a preservar aquilo que importa para o empreendimento. A regra do jogo do atual sistema econômico, por padrão, coloca os interesses dos acionistas em primeiro lugar. Em um negócio de impacto, isso é diferente. Não apenas a natureza e origem do empreendimento é para resolver um problema social e/ou ambiental, como a consideração dos stakeholders deve ser incorporada na processo decisório de curto e longo prazo. São exatamente dois pontos que as Empresas B Certificadas, por exemplo, se comprometem. Ao se certificarem, exige-se que alterem o seu contrato ou estatuto social para institucionalizar uma nova forma de fazer negócio e causar impacto positivo”.

Governança é aplicável a startups em qualquer estágio da jornada do empreendedor

Deve-se evitar o erro de acreditar que governança deve ser uma preocupação apenas para empresas de grande porte ou para startups em estágio de escala. De fato, alguns temas devem estar presentes em negócios mais desenvolvidos, como é o caso do relacionamento com órgãos de fiscalização e controle. Outros temas, contudo, devem estar presentes desde o começo do estágio de ideação, quando o negócio muitas vezes ainda não está nem formalizado. É o caso da gestão societária, que deve ser uma preocupação desde o primeiro dia da startup.

Marcel explica a relação entre governança e gestão societária:

“Essencialmente, [gestão societária] é onde os sócios alinham suas visões sobre as ‘regras’ que definem aquele empreendimento. Muitos sócios se alinham sobre uma ideia, mas jamais se perguntam sobre valores ou não tratam com clareza as expectativas individuais e coletivas sobre a sociedade, o que gera consequências estruturais no longo prazo. A dimensão societária é a primeira a ser tratada quando se fala em governança. Um time consistente, coerente e íntegro pode fazer uma ideia do nível Z se tornar nível A. E governança ajuda a identificar e conectar esses atributos. Ajuda a aumentar as chances de dar certo e diminuir as chances de dar errado.”

“O instrumento onde parte do combinado é refletido é o contrato ou estatuto social, onde os sócios e o time executivo criam o seu primeiro combinado sobre a natureza de um empreendimento, sobre a administração, a relação com stakeholders etc. Porém, não é suficiente. Outros instrumentos, como o acordo de sócios (ou acordo de acionistas em caso de Sociedades Anônimas), podem abranger temas como exclusividade, direito de saída, direito de preferência, etc. Dizem que o combinado não sai caro e isso se aplica perfeitamente na relação entre sócios”, conclui.

Desafios relacionados à governança e gestão societária em um negócio de impacto

Para Marcel, o principal desafio é cultural.

“Cultura é uma forma de pensar e fazer. Cada empresa tem a sua, pois cada sócio/empreendedor tem a sua forma e isso molda o dia-a-dia dos negócios. Por algum motivo, criou-se a cultura de que governança é para empresas grandes, de capital aberto, e não serve para startups ou negócios de impacto. Governança é a principal resposta que os empreendedores têm para a maior dor do investidores, que é o risco em um empreendimento. Mais de 90% dos empreendimentos deixam de existir antes dos 5 anos.

“Em muitos casos não é porque a ideia não é boa ou o modelo não funciona, mas sim porque os sócios e empreendedores não encontraram um formato de gestão e governança que melhor se aplica ao momento do negócio. Regras, combinados, expectativas não foram tratados, papéis e responsabilidades ficaram difusos, a tomada de decisão não é qualificada, clara e transparente.”

Ele explica ainda que “o resultado é um só: maior risco para o negócio em múltiplas dimensões: financeiro, operacional, reputacional, institucional e, quando vemos casos com o da Vale e as tragédias, até risco legal.”

Além do desafio cultural, há ainda o desafio jurídico.

“O Brasil tem uma particularidade: O artigo 170 da Constituição Federal já define que os princípios da atividade econômica no país incluem defesa do meio ambiente e redução de desigualdades sociais e regionais. E a Lei das S/As também determina como responsabilidade dos administradores e controladores a consideração da comunidade e colaboradores nas decisões, além do cumprimento do benefício público e função social – artigos 116 e 154. Ou seja, em termos de infraestrutura jurídica, temos um bom arcabouço, mas não é possível afirmar que isso é suficiente, caso contrário, teríamos um outro nível de empresas gerando impacto positivo em nosso país.”

“O que falta então? A lei não pré-fixa conduta e precisamos criar instrumentos de autocumprimento e maior controle social. E é aí que voltamos ao início da conversa com os princípios da governança. Precisamos de instrumentos de autocumprimento, como instrumentos que coloquem stakeholders na qualificação das decisões e instrumentos para maior controle social como a transparência. De novo, a governança não é o Santo Graal, mas ajuda a diminuir a chance de erro e aumenta a chance de dar certo.”

Para saber mais

Agora que você entendeu o que é governança e a sua importância, que tal se aprofundar no tema pelo bem do seu negócio de impacto?

O site do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa é uma boa fonte de informação. Nele, você pode se informar sobre cursos, eventos, por exemplo. E no seu portal do conhecimento, poderá ler e baixar uma série de conteúdos, como artigos, pesquisas e ebooks. Um ebook recomendado é o Governança Corporativa para Startups & Scale-ups, que aprofunda os temas tratados nesta matéria.

Bom estudo!