Investidores “odeiam” Empresas B? As evidências dizem enfaticamente que não.
Originalmente publicado em inglês pelo B The Change. Autor: Rick Alexander. Traduzido para o português pelo Kaleydos.
Um recente artigo da Bloomberg discutiu a campanha dos acionistas ativistas na Etsy, um mercado público online que é uma Empresa B Certificada (uma certificação ambiental, social e de performance de governança, mantida pela entidade sem fins lucrativos B Lab, a companhia em que trabalho). O artigo declara que “mercados públicos que sejam empresas B são raros porque investidores as odeiam”. Nada podia estar mais longe da verdade.
Investidores estão colocando seu dinheiro em Empresas B
Uma vez que praticamente todas as Empresas B são companhias privadas, seria razoável começar perguntando se empresas de capital de risco investem em Empresas B. Elas o fazem. De fato, neste momento, quase todas as grandes empresas de capital de risco do Vale do Silício já investiu em uma Empresa B. Eles estão investindo nelas porque acreditam que estes negócios terão retornos do nível de capital de risco – e satisfazer aos rigorosos padrões ambientais, sociais e de governança do B Lab é parte da fórmula de sucesso destas empresas.
Vamos olhar para parte da atividade de investimento de algumas Empresas B nos últimos meses: Altschool, uma empresa que levantou $130 milhões da comunidade de capital de risco, anunciou um aporte de $40 milhões neste mês. Em Abril, Lemonade, uma startup de seguro pessoal peer-to-peer, recebeu um investimento estratégico do Allianz, após ter encerrado uma rodada de $ 34 milhões. Em março, Data.world, uma startup de tecnologia sediada em Austin, anunciou que havia obtido $ 19 milhões em uma rodada de investimentos da Chicago Ventures, Fyrfly Venture Partners, Hunt Technology Ventures LP, LiveOak Venture Partners, Shasta Ventures e Sherpa Asset Management AG. Outros investidores de risco em Empresas B incluem Benchmark Capital, Founders Fund, Andreessen Horowitz, GV, Prelude Ventures, Tao Capital Partners, Khosla Ventures, S2G, Collaborative Fund, Blueberry Ventures, Thrive Capital, General Catalyst e Sequoia. Resumindo: investidores de risco não “odeiam” Empresas B.
Por outro lado, como o artigo diz, empresas abertas que sejam Empresas B são raras. Das mais de 2.100 Empresas B ao redor do mundo, há apenas quatro negociadas em grandes bolsas: duas nos EUA (Etsy e Laureate Education), uma no Brasil (Natura) e uma na Austrália (Silver Chef). A quinta empresa aberta é a Rally Sotfware, que foi adquirida por $480 milhões em 2015.
Mas quatro não são tantas – por que há tão poucas empresas abertas que sejam Empresas B? Porque elas são novas e estão levando tempo para atingir mercados abertos. Mas assim como a ideia se espalhou de pequenas empresas para o capital de risco e o private equity, as Empresas B irão inevitavelmente ir para os mercados públicos. Já está acontecendo.
Fevereiro viu acontecer outra IPO por uma Empresa B, a Lareate Education, uma empresa de educação de nível superior com campi ao redor do mundo. A Laureate levantou $ 490 milhões nesta transação e também fechou uma rodada de private equity, pré-IPO, de $ 383 milhões em dezembro, que incluía Apollo Management, KKR e o Araaj Group. Subsequentemente à IPO, o fundo Fidelity revelou que havia comprado 10 porcento das ações comuns Classe A da Laureate no mercado aberto. A empresa recebeu a luz verdade dos seus advogados, dos seus investidores e do seus bancos de investimento. Nenhum destes investidores ou conselheiros parecem “odiar” Empresas B.
Espere mais atividades no mercado aberto: em abril, a Danone, multinacional francesa, anunciou que combinou todas as suas operações americanas na DanoneWave, uma empresa com receita de $6 bilhões que pretende se certificar como Empresa B em 2020. Na mesma semana, o CEO da Danone, Emmanuel Faber, disse que ele quer criar um caminho para certificação para a empresa-mãe também. Outras empresas públicas, incluindo a Campbell´s Soup, são proprietárias de Empresas B.
A estrutura legal das Empresas Beneficentes ajudam investidores de longo prazo
A matéria da Bloomberg também está errada ao dizer que investidores resistem à certificação como Empresa B porque requer os negócios se tornem “empresas beneficentes”. Resumidamente, a governança de empresa beneficente é exigida para a certificação de muitas Empresas B, e significa que os diretores devem responder pelos interesses de todos os stakeholders em suas tomadas de decisão – não apenas os acionistas. Até o momento, não houve nenhuma resistência de investidores a este conceito nos mercados abertos. Embora empresas beneficentes (assim como Empresas B) sejam novas, elas são viáveis e atrativas a investidores tanto em mercados abertos como fechados. Investidores alocaram quase $ 1 bilhão em empresas beneficentes apenas nos últimos seis meses, como a recene grande atividade financeira das Empresas B mostra – cada recente investimento em Empresas B discutido neste artigo também é um investimento em uma empresa beneficente.
Assim, em vez de “odiar” a natureza responsável das empresas beneficentes, os mercados acionários estão rapidamente entendendo o valor do comprometimento autêntico com todos os stakeholders. Enquanto muitos nos mercados abertos continuem a valorizar o preço das ações no curto prazo, em vez do valor no longo prazo, muitos investidores estão começando a entender as vantagens de investir em empresas que se responsabilizem pelo seu impacto sobre todos os stakeholders: testemunhe a recente e bem sucedida proposta de acionista sobre as mudanças climáticas na Occidental Petroleum, patrocinada pela CalPERS, o maior fundo de pensão público do mundo, e apoiada por gestores de ativos como a BlackRock, o maior gestor de ativos do mundo.
De fato, o presidente da BlackRock, em uma recente carta aos CEOs, articulou uma filosofia de investimento que compreende aquelas mesmas ideias que a certificação de Empresas B e a governança de empresas beneficentes põem em prática:
Nós procuramos ver que uma empresa esteja afinada com os fatores-chave que contribuem para o crescimento no longo prazo: sustentabilidade do modelo de negócios e de suas operações, atenção a fatores externos e ambientais que possam impactar a empresa e o reconhecimento do papel da empresa como membro da comunidade em que opera.
Investidores odeiam Empresas B? As evidências dizem que não.
Frederick Alexander é Head of Legal Policy no B Lab, uma ONG sediada na Pensilvânia, que cria ferramentas que permitam que negócios ajam como uma força para o bem. Seu livro “Benefit Corporation Law and Governance: Pursuing Profit with Purpose,” está agendado para ser publicado pela Berrett-Koehler no outono (americano) de 2017.