Reunir especialistas para discutir qual é, de fato, o significado de uma startup, bem como maneiras de pensar além e trazer o empreendedor para a realidade. Esse foi o objetivo de uma das mesas da Conferência Nacional Anjos do Brasil.
Com um time composto por Flavio Pripas, do CUBO, Isabelle Chaquiriand, da ISE Business School, no Uruguai, e Marcelo Nakagawa, do Insper, a rodada foi mediada pela jornalista Sandra Boccia, da revista PEGN, e abordou o que deve estar presente em um modelo de negócio de sucesso.
Qual é a relação entre modelo de negócio e startup?
Marcel Nakagawa falou sobre o que, de fato, consiste em uma startup, já que esse tipo de negócio costuma gerar muita dúvida e confunde a mente de diversos empreendedores. Para exemplificar seu ponto de vista, ele utilizou a definição de Steve Blank.
“Startup é uma organização formada para buscar um modelo de negócio repetível, estável e lucrativo”.
“A startup não necessariamente nasce com um modelo definido”, explica o professor. “O Canvas, por exemplo, te ajuda a pensar, mas não é algo definido”, explica Nakagawa, que toma como exemplo uma situação real para ilustrar como um negócio pode se desdobrar em várias ideias.
O exemplo trata da história do McDonald’s e de como a empresa percebeu que investir na aquisição dos imóveis traria muito mais lucro do que os hambúrgueres em si, gerando um fluxo de receita estável e imediato, além de mais capital para expansão.
“É por causa disso que eles continuam existindo. No ano passado, 33% do faturamento e 82% do lucro vieram do aluguel dos imóveis. É importante todo mundo perceber essa lógica de que aquilo que você faz é seu jeito de ganhar dinheiro. Existem, portanto, outras modalidades no mesmo tipo de negócio”, completa.
Diante desse cenário e da enorme “esfinge” encontrada pelos empreendedores no início de qualquer negócio, é fundamental conseguir algo que seja escalável e repetível. Por isso mesmo existe o Costumer Development, que valida cada etapa e o modelo de negócio.
Impacto social nos empreendimentos: moda ou necessidade?
Isabelle Chaquiriand iniciou sua participação na roda de conversa falando sobre modelos de negócio que geram impacto social. Para ela, esse é um foco que só ganha cada vez mais destaque, nacional ou internacionalmente.
“Na Nicarágua vimos, por exemplo, uma plataforma de formação online que permite aos jovens que moram longe da cidade se prepararem para entrar na faculdade”, comenta.
Para ela, os jovens, principalmente, já vêm com uma efervescência empreendedora grande e, por isso, têm muito forte a questão social. “Ao contrário do que se pensa, pode-se ganhar dinheiro com o social”, adiciona a executiva, enfatizando que esse tipo de negócio é um grande atrativo para investidores europeus e americanos.
Outro ponto abordado por Isabelle foi a tendência de cruzar capacidades de duas indústrias distintas. Fintechs e Agrotechs, por exemplo, trazem conhecimento tecnológico às empresas mais tradicionais. “Essa é uma tendência muito forte em toda a América Latina”, adiciona Isabelle.
Quando a ideia vira realmente um negócio?
O empreendedor já tem uma empresa a partir do momento em que põe a ideia em prática? Quais são as etapas que devem ser percorridas para que esse processo seja, de fato, concluído?
Esse foi o tema de Flavio Pripas, que falou sobre o pragmatismo necessário aos empreendedores brasileiros – geralmente desacostumados à ideia de que sem clientes não existe um negócio de fato.
“Do nosso ponto de vista, o empreendedor só tem uma empresa a partir do momento em que tem produto, modelo a ser testado e clientes”, explica. “Se você não recebe feedback de alguém que usa aquele negócio ainda achamos que está no estágio da ideia”, completa.
Um aspecto positivo apontado por Flavio é a possibilidade de trabalhar e expandir um negócio no mercado interno, já que empreender no Brasil abre um leque enorme de possibilidades.
“Isso é diferente de países menores. Entretanto, mesmo assim, sempre tentamos fazer com que a pessoa olhe para o mundo”, adiciona o executivo, que destaca situações em que o concorrente que trabalha no mesmo segmento pode entrar no Brasil, ao passo que o empreendedor nacional também tem a possibilidade de entrar no mercado dele.
“O que ajuda muito isso são os empreendedores de fora que abriram negócios no Brasil. Com a crise, esse movimento parou e agora está voltando de novo. Isso acaba sendo um termômetro de mercado”, conclui.