Focada na BNCC e na reforma do ensino, 25ª edição do evento também apresentou ferramentas, métodos e práticas que começam a ganhar espaço em escolas de todo país

Do Porvir

Com o olhar voltado para a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e a reforma do ensino médio, a 25ª edição da Bett Educar consolida tendências educacionais e apresenta ferramentas, métodos e práticas que devem chegar às salas de aula de todo país nos próximos anos. O evento teve início nesta terça-feira (8) e acontece até o dia 11 de maio, no São Paulo Expo, em São Paulo (SP).

Enquanto a programação do congresso tem seu foco nas novas políticas nacionais para a educação, os destaques na área de expositores da feira se concentraram em iniciativas que promovem uso de tecnologia, educação mão na massa e desenvolvimento de competências. A quantidade de iniciativas voltadas para o ensino bilíngue também chama a atenção.

Para Vera Cabral, diretora de conteúdo da Bett Brasil Educar, o evento reflete o interesse de educadores e gestores em saber como atuar diante do novo cenário educacional que se constrói com a homologação da Base e o projeto de flexibilização curricular no ensino médio. “Propositalmente, o conteúdo [da Bett Educar] está muito focado nessas duas políticas. Nós sabemos que a implementação não será fácil”, diz a consultora em educação, ao mencionar o desafio que escolas e redes terão para adequarem seus currículos nos próximos dois anos.

Uso de tecnologia

Entre as tendências educacionais que aparecem com força no evento, Vera também analisou que o uso de tecnologia na educação já não é mais um ponto de discussão. “Temos um momento muito diferente de anos atrás, quando tínhamos dúvida se a tecnologia educacional valia a pena. Eu acho que hoje essa pergunta não se faz mais. A tecnologia está presente em tudo nas nossas vidas e na educação ela é extremamente importante”, avalia.

Ao andar pelos corredores do centro de exposições, essa avaliação se confirma. Além de aplicativos e plataformas que apoiam diretamente a aprendizagem, são apresentadas muitas soluções que utilizam tecnologia para facilitar a gestão escolar. Das quase 60 ferramentas identificadas pelo Porvir durante a feira, pelo menos 26 delas tinham alguma funcionalidade voltada para o gerenciamento de matrículas, comunicação com os pais, controle financeiro e agenda escolar.

“Por incrível que pareça, a grande maioria das escolas ainda trabalha de maneira manual. Por serem antigas, elas sempre fizeram assim e acham que funciona. Quando implantamos um software de gestão, a primeira coisa que elas percebem é como estavam perdendo dinheiro”, conta Gabriel Nogueira, gerente implantação e relacionamento da Escolaweb, sistema que permite fazer o gerenciamento financeiro e acadêmico da escola, incluindo organização da biblioteca, controle do acesso de alunos, portal do aluno, matrícula digital e automatização de tarefas administrativas.

Mão na massa

As ferramentas e aplicativos exibidos durante a feira também não excluem a possibilidade de tirar os alunos da frente das telas. Nesta edição da Bett Educar, a educação mão na massa ou maker é uma das principais tendências entre expositores. Pelos menos 26 deles tinham algum iniciativa voltada ao fazer, que resgata a experiência lúdica do aprendizado que passa pelas mãos.

“Fica evidente pelo número de ofertas [na Bett] que o assunto começou a virar uma tendência muito rápido, mas ainda tem muito a se provar em relação à permanência disso ao longo dos anos nas escolas”, avalia Lucas Torres, presidente-executivo e fundador do Nave à Vela, que implementa espaços e dinâmicas makers em colégios. Segundo ele, o que realmente irá consolidar a educação mão na massa será a sua permanência nas escolas, viabilizando a construção de projetos de aprendizagem significativa. “Na edição passada não existia quase nada de maker, e o que existia era robótica. Hoje as pessoas já sabem o que é, elas já ouviram isso em algum lugar.”

Na feira, é possível conhecer desde experiências que envolvem o fazer e o uso de objetos do cotidiano até a programação de placas e a construção de robôs. No entanto, o empreendedor e educador Fábio Zsigmond, sócio-fundador do MundoMaker, espaço de aprendizagem criativa, destaca que é importante cada escola entender qual será a sua proposta e considerar o quanto cada iniciativa pode promover uma experiência de aprendizagem transformadora para a educação. “Estou cansado de andar por escolas e ver espaço [maker] vazio porque não foi feito o mais importante, que é trabalhar com as pessoas – pais, professores e alunos – para entender o sentido de fazer aquilo e desenhar uma prática.”

Desenvolvimento de competências

Além das experiências de educação mão na massa, outras iniciativas presentes na Bett Educar demonstram preocupação com o desenvolvimento de competências. Apesar da homologação da Base Nacional reforçar esse debate, Sandra Garcia, diretora pedagógica da Mind Lab, que trabalha habilidades sociais, emocionais, cognitivas e éticas de forma integrada, reforça que esse movimento já tem acontecido há algum tempo.

“O que eu venho trazendo muito como uma tendência é a necessidade de olhar para o ser humano de forma integral, parar um pouco de pensar que cérebro e coração se dissociam. Quando constatamos isso, começamos a perceber que o desenvolvimento das funções cognitivas estão no mesmo nível do desenvolvimento das habilidades emocionais, sociais e éticas”, diz Sandra.

Ensino Bilíngue

Em comparação com o último ano, o número de iniciativas voltadas para o ensino bilíngue também aumentou no evento. O Porvir contou pelo menos nove expositores voltados para essa temática. Na avaliação de Marina Dalbem, diretora de soluções educacionais do programa Edify, que recebeu investimento do fundo Gera Venture para levar um programa bilíngue para escolas de todo o país, esse crescimento pode ser uma resposta dos brasileiros que estão se atentando mais ao fato da inserção do país no meio global.

Ela também destaca que com a Base e a reforma do ensino médio, a língua inglesa deve ganhar mais importância no currículo. “Como o currículo passará a ser mais multidisciplinar, o inglês passa a ser uma ferramenta que entrega isso. Quando eu faço através do inglês, consigo cobrir uma série de temáticas diferentes dentro do contexto do ensino da língua”, cita Marina, ao exemplificar que é possível usar o inglês como um meio para discutir a guerra da Síria, trabalhar sustentabilidade ou até mesmo estimular o desenvolvimento de projetos. E, apesar de ser uma tendência predominante entre escolas particulares, ela diz que é possível o Brasil se inspirar em países como o México e o Uruguai, que nos últimos anos fizeram um esforço para que o ensino bilíngue pudesse avançar na rede pública.

Veja uma representação gráfica de como se dividiram os expositores da Bett por área: