A Broota entrevista fundador da Din4mo Ventures, líder de um sindicato de investimentos em negócios de impacto da plataforma de equity crowdfunding
Do Broota
A Din4mo lidera o primeiro sindicato de investimentos de impacto no país, que conta com 99 apoiadores e já alocou R$1.820.000 em negócios sociais — tendo impactado mais de 18.000 pessoas.
Eleita em 2016 pela ONG B Labs como uma das melhores empresas para o mundo, a consultoria e pós-aceleradora foi fundada em 2014 pelos sócios Marco Gorini, Marcel Fukayama e Haroldo Torres — que estão envolvidos com o ecossistema de impacto há 15 anos.
Entrevistamos o Marco sobre o investimento impacto no Brasil, a experiência da Din4mo e tese de investimento em negócios sociais.
Broota Brasil: A Din4mo Ventures é focada em investimento de impacto. O que qualifica um negócio de impacto?
Marco Gorini: Uma startup de impacto tem em seu DNA e Core Business o objetivo de gerar impacto social positivo através de mecanismos de mercado. Uma startup que não seja de impacto, não tem como core business e propósito a geração de impacto positivo, mas sim a geração de resultado financeiro apenas.
A provocação aqui é: É possível uma empresa não gerar impacto? Há graus de conscientização e protagonismo diferentes diante desta pergunta. Há as que geram impacto negativo e não estão nem aí para isso. Há as que geram impacto negativo e tentam mitigar esses impactos de alguma forma. E há aquelas que decidiram que não só não irão gerar impacto negativo, mas também terão como propósito central da sua existência gerar impacto social positivo. Essas últimas são as empresas de negócios de impacto.
Como está estruturado hoje o ecossistema de impacto no Brasil?
Este é um tema interessante pois cada vez mais se vê uma pressão e uma conscientização da sociedade de que uma empresa, seja qual for o seu porte, deve sim estar atenta aos impactos que gera e preferencialmente buscar gerar impacto positivo. É uma tendência sem volta.
O ecossistema global e nacional está em evolução tanto nos aspectos teóricos quanto práticos e operacionais. Há uma gama de atores novos se posicionando neste campo, sejam investidores, empreendedores, organizações como incubadoras, aceleradoras e consultorias. Os principais atores do ecossistema hoje são os investidores, os empreendedores, os facilitadores e os beneficiários finais (comunidades de baixa renda). A cultura, a qualificação e a quantidade de atores está evoluindo, provocados por essa tendência de conscientização social.
(A Força Tarefa de Finanças Sociais (FTFS) mapeou o ecossistema brasileiro e publicou um relatório com as projeções do futuro do campo de impacto no país e recomendações para os agentes do ecossistema. Veja aqui).
Antes de fundarem a Din4mo, o que vocês faziam? Já estavam envolvidos com o impacto?
Todos nós somos empreendedores de longa data neste campo. Todos estamos envolvidos nessa causa faz mais de 15 anos.
O Haroldo atuou como empreendedor no Data Popular e no Plano CDE antes de fundarmos a Din4mo em 2014. Ambas empresas conectadas com as comunidades de baixa renda, focadas em apoiar organizações nacionais e internacionais no entendimento de mercado e necessidades deste público e facilitando o desenvolvimento de inteligência focada na base da pirâmide. É hoje quem agrega essa inteligência mercadológica na Din4mo.
O Marcel empreende desde os 17 anos. No início como dono de uma rede de lan houses em comunidades e depois liderando as iniciativas da ONG CDI, focada na inclusão digital dos jovens de comunidades carentes no Brasil e no exterior. Além disso, foi um dos grandes responsáveis por trazer o Sistema B para o Brasil e hoje é membro do Conselho Nacional. A partir de 2014, co-fundou a Din4mo. Essa experiência acumulada lhe permite hoje trazer para a Din4mo uma inteligência de governança e processos bastante refinada.
Eu sou empreendedor faz 21 anos, desde os 25. A Din4mo é a minha quinta empresa e posso dizer que, exceto pela primeira, todas as demais foram criadas para servir de alguma forma ao público de baixa renda ou a empreendedores que se dedicavam a este segmento. Eu agrego à Din4mo uma inteligência relacionada a estratégia, modelagem de negócios e estruturação e gestão financeiras.
Como surgiu a ideia de empreenderem juntos na Din4mo?
Nós três nos conhecemos em 2007. Na época, eu estava estruturando o primeiro projeto de investimento OMJ (Oportunidades para a Maioria) do BID e o Haroldo (que era sócio do plano CDE) e Marcel (interlocutor do CDI) entraram no time do projeto. Nós trabalhamos juntos por aproximadamente 5 anos e esse período nos fez perceber uma grande convergência de cultura, valores e forma de lidar com o campo de impacto. Vimos a oportunidade de nos juntar para empreendermos, juntos, no ecossistema de impacto, e assim começamos a Din4mo.
Considerando o impacto a principal diretriz da tese de investimento da Din4mo Ventures, vocês têm alguma preferência por mercado?
Acreditamos que negócios são a principal alavanca para a redução da desigualdade. Por isso nossa atuação está alinhada com a ODS 10 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — ONU).
Nesta área, temos mais interesse em negócios que ofereçam soluções para 3 grandes problemas:
- habitação, energia limpa e saneamento;
- saúde e educação;
- geração de renda e acesso financeiro.
Estes setores se conectam com a nossa Tese de Impacto, cujos pilares norteadores são: redução de vulnerabilidades, redução do custo transacional (famílias pobres pagam mais por tudo); aumento dos ativos familiares.
Como funciona o programa de pós-aceleração das startups — o Inovadores de Impacto?
Uma startup pode aplicar para o Programa Inovadores entrando no nosso site www.din4mo.com. Ali, ela preenche um pequeno formulário para podermos ver a aderência a nossa Tese de Impacto e, sendo elegível, passamos para a etapa de conversas com os 3 sócios da Din4mo. Na etapa de conversas avaliamos o time empreendedor, entendemos melhor a governança e alinhamos expectativas e, se tudo correr bem, a empresa ingressa no programa.
Aos selecionados, oferecemos ao longo de 6 a 12 meses, dependendo da maturidade da empresa, um reforço na área de gestão, governança, modelagem de negócio, capital e networking. São encontros semanais, personalizados e individuais entre a Din4mo e os empreendedores da startup. Não atuamos com rede de mentores, pois optamos por levar nossa senioridade diretamente para o campo, o que na nossa visão traz consistência e oportunidade de conhecermos mais o negócio e as possibilidades de geração de valor.
Ao final do programa, todos os negócios recebem investimento?
Idealmente sim, mas não é obrigatório.
A startup precisa passar nos critérios que definimos na nossa tese de investimento e no comitê de investidores da Din4mo Ventures.
Os investimentos ocorrem através do sindicato da Din4mo Ventures no Broota. Como o sindicato potencializa seus investimentos?
Hoje temos aproximadamente 100 investidores que apoiam o nosso sindicato no Broota, além daqueles que não estão diretamente no Broota, mas são parte do nosso network. Esse apoio potencializa bastante as chances de êxito em uma captação. O sindicato nos fornece volume de apoio.
Além disso, definimos em nossa tese de investimentos que ao liderarmos uma captação, entramos diretamente com no mínimo 20% do valor alvo da rodada. Isso demonstra que nos colocamos em risco junto com nossos apoiadores. Somos parte do jogo: Skin in the game.
Sua rede de co-investidores é bastante forte e engajada. Como é o relacionamento com eles?
É fruto de um trabalho de longa data, dos sócios, construindo reputação nas nossas jornadas como empreendedores. A nossa rede tem em comum a paixão e busca pelo impacto, e os principais investidores estão inseridos no ecossistema, então nós nos encontramos com frequência, ou então fazemos eventos e ações estruturadas — não há um padrão de relacionamento definido.
Acreditamos que servimos a um propósito maior do que nós, de impactar o mundo com escala e significado. Havendo um propósito claro, mobilizador, significativo, aliado a uma estrutura séria de governança e permanente troca de ideias, há boas chances da relação se fortalecer mais e mais.
Vocês já investiram em 2 empresas com o sindicato. Como estão essas empresas hoje?
Geramos quase R$2MM de investimentos: Foram 2 rodadas para o Programa Vivenda e 1 rodada para o Impact Hub.
As empresas estão indo bem, como toda jornada empreendedora: com seus desafios, soluções e necessidade de rápida adaptação. Ainda mais se somarmos o efeito “contexto Brasil”. Mas olhando para o quanto esses times superaram de problemas e conseguiram manter o leme das suas operações e fortalecer os seus modelos, ficamos felizes de termos feito esses investimentos e acreditamos que não só gerarão um impacto cada vez mais significativo, como trarão um bom retorno. Um exemplo claro foi o Vivenda que em Janeiro/2016 captou com valuation de R$3MM e agora em Maio/2017 captou com valuation a R$4.5MM.
Como vocês contribuem com as empresas investidas?
A relação com os empreendedores é muito boa. Somos parte do conselho de ambas as organizações e acompanhamos de perto a evolução dos fatos, podendo apoiar com a nossa expertise e o nosso network quando necessário.
Temos uma posição privilegiada em termos de interações e profundidade de conhecimento sobre o negócio e, de acordo com a necessidade da empresa, nos engajamos também em seu dia-a-dia através de coaching e mentoria ou na mobilização do nosso network para acelerar algum processo/objetivo.
As ofertas que vocês realizaram pelo Broota foram todas bem sucedidas e, inclusive, a última rodada do Vivenda bateu o recorde do equity crowdfunding no Brasil. Vocês têm alguma dica para empreendedores e líderes de como estruturar e divulgar uma oportunidade de investimento?
Acho que não tem mágica. É trabalho bem feito, seriedade, integridade e coerência entre o que defende, fala e faz. Além disso, penso que transparência é fundamental: Ser claro, não deixar pontos cegos. Riscos são os do negócio e nada mais. Não pode haver riscos por falta de transparência.
Nosso papel não é apenas o de captar, mas o de formar um ecossistema saudável, com boas práticas. Isso se faz com ação e não com palavras. Precisamos ser o exemplo prático do que promovemos. Outro ponto importante é ter um bom network. E por fim, claro, ter um negócio que você acredite e que seja bom, interessante, que mobilize mentes e corações.