Relatório da British Council revela o cenário do empreendedorismo feminino em negócios sociais no Brasil
A desigualdade de gêneros continua a ser um problema significativo no mundo como um todo, incluindo o Brasil. A equidade de oportunidades entre mulheres e homens é justamente a Meta 5 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, definido pela ONU como “alcançar a igualdade entre os gêneros e empoderar todas as mulheres e meninas”.
Neste sentido, os negócios de impacto e os negócios sociais podem ser vistos como meios de se cumprir o ODS 5. Este é o tema da pesquisa O Papel dos Negócios Sociais no apoio ao empoderamento feminino no Brasil, lançado no último dia 13/09 pela British Council.
A pesquisa foi realizada em cinco países: Reino Unido, EUA, Índia, Paquistão e Brasil. Aqui resumiremos alguns dos principais resultados do relatório referente ao Brasil.
Mulheres ainda são sub-representadas nas empresas brasileiras
Segundo o relatório, no Brasil mais de 66% das empresas brasileiras não têm mulheres em posições executivas. Os negócios de impacto e os negócios sociais podem ajudar a reverter este quadro e outras desigualdades entre gêneros, mesmo quando este não seja o seu objetivo primário. Contudo, não são uma panaceia. Segundo o relatório:
Devemos enfatizar que o negócio social é simplesmente uma ferramenta de suporte ao empoderamento feminino. Pode ser extremamente útil e efetiva em determinados contextos, como este relatório irá demonstrar. Mas deve ser percebida como complementar, nunca em concorrência com outras abordagens para o empoderamento feminino. A igualdade de gêneros somente pode ser alcançada através de uma abordagem multifacetada.
A pesquisa identificou negócios sociais empoderando mulheres no Brasil de três formas:
- Criando o empoderamento econômico para as mulheres através do micro empreendedorismo;
- Oferecendo oportunidades de treinamento ou emprego para mulheres;
- Fornecendo produtos e serviços para mulheres a custos acessíveis.
Além disso, encontraram-se evidências de que os negócios sociais estão contribuindo para o empoderamento feminino em uma proporção maior do que em negócios tradicionais.
Empreendedorismo social entre mulheres no Brasil
O relatório da British Council cita um estudo recente da Thomson Reuters Foundation, que ranqueou o Brasil (entre 44 países) como o pior lugar para ser uma empreendedora social. A interpretação do relatório é a de que este fato reflete as desigualdades da economia brasileira como um todo. Nos demais países estudados, as desigualdades de gênero em negócios sociais, embora existam e sejam persistentes, são menores do que em empresas tradicionais. No Brasil, contudo, isto não parece acontecer. Na realidade, no Brasil as mulheres são ainda menos representadas nos negócios sociais do que nos tradicionais.
Entre outras constatações, incluem-se:
- Quanto maior o negócio social, menor a probabilidade de encontrar uma mulher na liderança;
- Negócios sociais liderados por mulheres são menores e com menor probabilidade de crescer;
- Mulheres gerindo negócios sociais ganham menos que suas contrapartes masculinas.
Segundo a pesquisa:
Em outros países, o setor do negócio social está abrindo caminho para o empreendedorismo e a liderança de mulheres; mostrando um caminho com melhores padrões de igualdade de gênero do que outros setores. O setor dos negócios sociais no Brasil precisa urgentemente aprender essas lições e aplicá-las na prática.
Mesmo com desafios, negócios sociais aumentam a auto-estima das mulheres empreendedoras
Apesar de todos os desafios e barreiras, as mulheres que participaram da pesquisa relatam vários impactos positivos da sua decisão de se tornarem empreendedoras sociais, como:
- Para 75%, começar seu próprio negócio social lhes deu um sentimento de autovalorização;
- 56% disseram que as havia deixado mais capazes de fazer suas próprias escolhas;
- 56% reportaram um aumento na autoconfiança.
O impacto negativo foi o esperado entre empreendedores de todos os tipos: insegurança financeira e estresse.
Mudando o cenário: recomendações visando a equidade de gênero em negócios sociais
Por fim, o relatório também faz uma série de recomendações para governos e formuladores de políticas públicas, bem como para investidores e organizações do ecossistema de negócios sociais e de impacto.
Algumas destas recomendações incluem:
Para governos/ formuladores de políticas públicas
- Introduzir a educação em empreendedorismo social nas escolas incluindo um foco específico no endereçamento da desigualdade de gêneros;
- Promover maior representação de mulheres em cargos de liderança em órgãos públicos;
- Implantar campanhas de políticas públicas para endereçar a estereotipagem nociva de gêneros no Brasil.
Para investidores
- Assegurar igualdade de representação entre homens e mulheres na Força Tarefa de Finanças Sociais, e que as vozes dos diferentes grupos de mulheres sejam ouvidas;
- Aprender as lições do relatório ‘The Sky’s the Limit’ da Young Foundation e usar uma ‘lente de gênero’ na tomada de decisões de investimento, entendendo as barreiras adicionais enfrentadas pelas empreendedoras
sociais, além dos pontos fortes de negócios sociais liderados por mulheres; - Lançar fundos e subvenções agrupadas para investimento social liderado por mulheres, para mulheres.
Para organizações do ecossistema de negócios sociais e de impacto
- Criar redes de suporte de pares para empreendedoras sociais que incluam a construção de capacidade e desenvolvimento de habilidades;
- Pesquisar, entender e divulgar a diferença salarial por gênero nos negócios sociais;
- Promover a importância de medir os impactos socioambientais, e incluir a igualdade de gênero como parte destas métricas.
Para saber mais, baixe o relatório
O relatório está disponível ao público desde o dia 13/09 e a British Council gentilmente autorizou que o colocássemos para download na Kaleydos. Para baixá-lo, clique abaixo:
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