Corporate Venture Capital: o ganha-ganha entre grandes empresas e startups
Os CVCs estão em crescimento no Brasil e são a porta de entrada para a relação entre startups e grandes empresas
Imagine a seguinte situação: uma grande empresa tem definida em sua estratégia iniciar uma produção mais sustentável utilizando tecnologias que tenham conexão com a bioeconomia. O que seria mais simples: fazer internamente, gerando custos monetários e intelectuais ou convidar quem tem a solução pronta e pode aplicar na organização? Com certeza a segunda opção seria a mais assertiva e viável.
Como a maioria das grandes corporações querem inovar em grande velocidade, é mais difícil formar um time que realize essas iniciativas. Neste caso, startups e empresas de menor porte são buscadas para suprir essas demandas, gerando uma relação de troca de alto ganho para as duas partes: agilidade e conhecimento para quem busca e investimento, crescimento e reputação para quem fornece.
Essa é uma explicação simplificada da atuação da Corporate Venture Capital, uma modalidade de investimento que monitora e adquire soluções inovadoras, que agreguem valor (não necessariamente monetário) e apoie a estratégia corporativa.
Este mercado triplicou no mundo desde o ano de 2014. Segundo a consultoria CB Insights, em 2019 foram apontados mais de 57 bilhões de dólares movimentados dessa maneira em todo o mundo. No aporte para startups esse modelo é responsável por 25% do volume investido em um ano (Exame.com).
No Brasil, os números são impressionantes. Em 2016 foram pouco menos de 1 milhão de dólares. Em 2019 saltou para 158 milhões de dólares.
De acordo com a ACE Startups apesar do mercado aquecido a maturidade é inicial, uma vez que 62% dos CVCs no país atuam há menos de dois anos, tendo assim poucos dados e cases que fortaleçam o ecossistema e as relações dos stakeholders. É importante destacar que tudo ainda é muito recente quando comparado a outros lugares do mundo: enquanto o mercado internacional começou a ter movimentos em 1910, o Brasil teve algo apenas em 1990. São 80 anos de atraso.
A Kaleydos bateu um papo com Fabiana Goulart, Gestora de Aceleração do Quintessa, que atua na frente de investimentos e captação de recursos, para entender mais como o mercado vem se comportando no Brasil.
O Quintessa é uma das principais aceleradoras de impacto do Brasil. Há 12 anos, impulsiona negócios de impacto socioambiental, tendo apoiado mais de 200 soluções, e busca promover também as agendas de inovação, impacto positivo e ESG para grandes empresas, investidores, institutos e fundações.
“Aqui nós entendemos quais os empreendedores que estão prontos para captar, vendo estratégia e tese, e de acordo com essa análise direcionamos o melhor tipo de investimento, sendo o Corporate Venture Capital uma dessas possibilidades” explica.
Venture Capital e Corporate Venture Capital: é igual?
Antes de aprofundar o tema, tiramos a dúvida: Venture Capital e Corporate Venture Capital significam a mesma coisa?
Fabiana explica que os termos são parecidos e possuem similaridades no conceito, mas são diferentes. Quando o fundo é de Venture Capital o empreendedor precisa ter em mente que o intuito é puramente financeiro e a realização do retorno se dá pelo lucro. Já o Corporate Venture Capital (CVC) é quando cria um fundo de Venture Capital, mas sua aplicação faz parte de uma estratégia de empreendedorismo e inovação corporativa.
“Não tem como uma empresa pensar em puro lucro como estratégia corporativa. Ela vai buscar as novidades do mercado, as sinergias e as soluções externas que resolvem seus problemas ou possibilitam a exploração de novos mercados, como uma tecnologia nova”. Por meio do CVC essas organizações criam relação com empreendimentos iniciantes e intermediários que fornecem soluções alinhadas aos objetivos e metas definidos na estratégia da corporação.
O cenário atual e a oportunidade para os negócios de impacto
Os CVCs nasceram prioritariamente com o intuito de monitorar e articular aquisições de empresas com maior inovação e tecnologia, que poderiam agregar valor e crescimento à compradora, geralmente vinculada a novos produtos, expansão de mercado etc. Com o passar dos anos, o formato começa a ampliar horizontes e buscar soluções para agendas de inovação social, mudanças climáticas, impacto ambiental, impacto social, diversidade e, mais recentemente, ESG.
Com essa nova perspectiva, os negócios de impacto ganham força. “É um momento oportuno para os negócios de impacto exatamente por conta do estouro da agenda ESG. Até pouco tempo atrás as estratégias eram baseadas em abraçar mercado por conta da visão financeira. Hoje, as empresas estão compreendendo a relevância das pautas ambientais e sociais, permitindo aumentar o escopo, conectando as soluções boas para a empresa e boas para os problemas críticos que estamos vivendo.”
Quanto aos atores do mercado, existe um movimento de percepção sobre as vantagens de ter um parceiro especialista para complementar as estratégias, mesmo que ela aconteça só após tentativas frustradas que foram executadas internamente: “Sentimos que cada vez mais as empresas entendem a agilidade do setor para complementar as suas estratégias. Várias vezes ouvimos de determinada diretoria de uma grande corporação que investiu em negócios pelo Quintessa por meio de CVCs que já houve uma tentativa de desenvolver internamente uma solução para o problema, não deu certo e então há o insight de que é necessário estar próximo de players que tenham esse conhecimento específico.”
Como aproveitar a oportunidade?
Os caminhos para encontrar oportunidades em Corporate Venture Capital são de busca ativa. É necessário estar atento ao mercado (programas, editais etc), pesquisar empresas que o empreendedor acredita ter alinhamento com a sua solução e que possam ter iniciativas de inovação aberta são alguns passos interessantes.
Além disso, a preparação para falar sobre uma possível parceria ou investimento também precisa estar em dia. Quem quer ter sucesso neste tipo de relação precisa se demonstrar interessado, flexível, ter boa visão de negócio e de mercado, buscar entender as terminologias e entender, principalmente, qual a sinergia que existe entre a organização e a sua solução, pois esse pode ser o ponto-chave de um acordo de sucesso.
“Por vezes acontece de o negócio estar alinhado, a proposta do produto estar pronta para ser aplicada, mas não existe uma sinergia entre as organizações que criam um vínculo de ganha-ganha.” diz Goulart.
O ideal é pesquisar sobre a empresa, entender qual a cultura, quais os valores ali promovidos e compreender se eles estão de acordo com o seu propósito. Se esse alinhamento acontecer, as chances de acontecer um match aumentam muito e há uma relação de satisfação mútua.
Quando a relação entre empreendedor e empresa está em andamento, é importante haver um alinhamento de expectativas para evitar frustrações ou ruídos. “Ainda existe um abismo entre o que a organização quer e o que a startup pode entregar. A régua às vezes chega muito alta e precisamos explicar quais são as reais possibilidades e que é de extrema importância e relevância que haja investimento e incentivo desses negócios iniciantes que podem não ter a maturidade esperada, mas possuem o conhecimento e a solução necessária naquele caso.”
Um empurrãozinho no tema: Guia de Inovação Aberta, do Quintessa
No mesmo dia que conversamos com a Fabiana, o Quintessa lançou uma grande novidade: o Guia de Inovação Aberta. Patrocinado pela Aliança Pelo Impacto, a publicação de mais de 50 páginas tem como objetivo apoiar grandes empresas, institutos e fundações no desenvolvimento de programas de inovação aberta que gerem valor tanto para a organização quanto impacto socioambiental positivo e traz conceitos e aplicações práticas.
Para acessar o Guia é só clicar aqui.