O mês de março é sempre um convite para refletir o papel da mulher na sociedade, de celebrar conquistas, de trazer consciência e debater os próximos passos para o alcance das tão desejadas equidades e direitos.
Durante a pandemia, o percentual feminino que estava trabalhando chegou a 45,8% no terceiro trimestre, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em paralelo, o empreendedorismo feminino (que já era expressivo) aumentou aproximadamente 40%, segundo pesquisa da Rede Mulher Empreendedora. A motivação principal ainda é a necessidade de renda.
Embora seja um crescimento interessante, não quer dizer que as coisas estejam mais fáceis para elas.
Tudo é muito desigual no fantástico mundo do empreendedorismo
Segundo dados da pesquisa Female Founders, correalizada pelo Distrito, uma plataforma que une startups, empresas e investidores, e B2Mamy, 46,2% das empresas tradicionais têm fundadoras mulheres. Esse número na área de inovação e tecnologia reduz drasticamente para 9,8%, sendo que menos da metade é fundada apenas por mulheres.
O quesito investimento também assusta: dos 3 bilhões de dólares injetados em startups no mundo em 2020, só 0,04% foram destinados para soluções com liderança exclusivamente feminina. E piora. Os poucos aportes são, em média, 65% inferiores ao masculino.
O mais curioso é, que apesar de todas as dificuldades, empresas que têm fundadoras possuem crescimento e lucros mais elevados. No cenário das startups, dados mostram que empresas com sócias têm resultados 25% melhores do que as que possuem apenas sócios homens. Um relatório da Boston Consulting Group (BCG) ainda aponta que, em cenário global, elas podem elevar o Produto Interno Bruto Mundial em torno de US $5 trilhões.
Mas, se as vantagens e a capacidade já são comprovadas, por que essas mulheres não decolam? Os motivos são vários, todos pautados na mesma base: o machismo.
Investidores consideram que essas mulheres não conseguiriam gerir suas próprias empresas, que outras tarefas tomariam seu tempo, que a maternidade atrapalha, que não são capazes.
Para suprir essa demanda e quebrar o paradigma, surgem iniciativas para confrontar os estereótipos e fortalecer o protagonismo feminino, criando oportunidades de desenvolvimento destas empreendedoras e de seus negócios.
O movimento está se fortalecendo
Aos poucos, o reconhecimento está aparecendo e mais parcerias surgem para fomentar o tema. Crescem, também, o número de instituições que surgem já com a missão de acelerar o empreendedorismo feminino. São programas de incentivo, aceleração, educação e até fundos de investimento dedicados a soluções fundadas ou cofundadas ou que tenham lideranças majoritariamente compostas por mulheres.
Selecionamos 4 iniciativas que atuam no Brasil cujas semelhanças vão além do objetivo e da missão: elas são lideradas por mulheres.
4 iniciativas que apoiam o empreendedorismo feminino e que são lideradas por mulheres
Foi em 2010 que Ana Fontes iniciou um blog para compartilhar as dores e alegrias de ser mulher empreendedora. Em pouco tempo, o espaço ficou pequeno e uma rede de compartilhamento e apoio foi formada.
Assim nascia a Rede Mulher empreendedora, a primeira e maior rede de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil e que integrou milhares de mulheres que trocam experiências e geram apoio umas às outras. Mas não era o suficiente.
Percebendo que poderia ir além, Ana decidiu criar o Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME). Lançado em 2017, o IRME chegou com o propósito claro de capacitar, desenvolver e empoderar as mulheres empreendedoras, principalmente em situações de vulnerabilidade por meio de projetos de educação, mentorias, palestras e cursos.
A missão maior é apoiar o crescimento de cada uma delas para que conquistem sua independência financeira e possam, sozinhas, decidir seus caminhos e gerar impacto positivo também em suas redes e comunidades.
Desde seu surgimento a RME já impactou mais de 750 mil pessoas.Também soma mais de 140 mil empreendedoras cadastrada e mais de 50 mil participações em seus eventos.
Para o mercado que acredita e quer se aproximar do tema, a Rede oferece serviços de ativação de marca, consultoria de diversidade, eventos relevantes, elaboração de programas e mais.
Este ano o IRME lançou a versão 5.0 do “Mapa do Ecossistema de Apoio às Mulheres”, que apresenta iniciativas que trabalham em temas de acesso aos direitos e oportunidades. Vale a pena conferir.
2) B2Mamy
Foi em 2015, com a chegada de seu filho que, a empreendedora em marketing digital e inovação, Dani Junco percebeu um grande dilema. Mulheres com ideias incríveis não conseguiam desenvolver seus negócios por não acreditarem em seu potencial e não encontrarem apoio para isso.
Certa de que esse cenário poderia mudar com incentivo e ambiente certos, Dani fundou a B2Mamy. A empresa nasceu com o objetivo de capacitar e empoderar essas mulheres para que sejam líderes e independentes e as conectar com o ecossistema de inovação brasileiro.
Em 5 anos já são mais de 10 mil mulheres na comunidade, 30 mil capacitadas em programas de educação e uma quantia que ultrapassa os R$6 milhões movimentados em sua rede de mulheres empreendedoras.
Hoje, a aceleradora que já é referência no mercado, desenvolve jornadas de capacitação, pesquisas especializadas, cursos de aceleração, promove eventos e congressos, possui um espaço próprio de coworking (no momento paralisado por conta da pandemia do coronavírus),
No mês de março de 2021, a empresa entregou mais um grande projeto. Em correalização da B2Mamy, Endeavor e Distrito, o Female Founders Report é um estudo sobre a liderança e o empreendimento feminino no ecossistema de inovação brasileiro. Para ler o estudo na íntegra, clique aqui.
3) WeVentures
Só 2,2% dos recursos de Venture Capital foram injetados em startups fundadas por mulheres, nos últimos 2 anos. Só que esses negócios geraram o dobro de retorno.
Neste cenário e com a missão de equilibrar essa distribuição e fornecer acesso a capital, foi criado o WE Ventures, o primeiro fundo de investimentos da América Latina focado em startups de base tecnológica lideradas por mulheres.
A iniciativa é liderada por Marcella Ceva e composta por uma equipe quase 100% feminina, é parte do programa Women Entrepreneurship, da Microsoft Participações e conta com parceria do Sebrae, M8 Partners e associação com a Bertha Capital. Em 5 anos o WE Ventures pretende captar até R$100 milhões.
Para garantir que as líderes tenham participação ativa, e não apenas no papel, as startups selecionadas precisam ter ao menos 20% do capital social na mão delas. Atualmente duas startups são investidas pelo fundo: a WeImpact e a Packid.
4) Afrolab
Iniciativa da Pretahub, fundada e liderada por Adriana Barbosa, referência na temática de empreendedorismo e consumo negro no Brasil, o Afrolab realiza suporte e capacitação a negócios, em diversas fases, promovendo e impulsionando o afro empreendedorismo.
Com metodologia inovadora, que reúne capacitação técnica e criativa, inventividade e autoconhecimento, o programa já apoiou mais de 200 pessoas.
Apesar de não ser uma iniciativa exclusiva para o público feminino, a rede de embaixadores regionais da Afrolab é composta totalmente de mulheres. Em 2019, foi realizado o projeto Afrolab Para Elas, um programa gratuito de aceleração que rodou nove estados brasileiros e impactou mais de 100 famílias.
E as grandes empresas, como tem apoiado a causa?
Além das organizações e projetos que nasceram com o objetivo de fortalecer os grupos de empreendedoras e líderes, algumas grandes empresas estão começando a fazer o dever de casa.
NuBank
A fintech Nubank anunciou um compromisso de igualar os postos de liderança até 2025. Isso significa a contratação de aproximadamente 3.300 mulheres para esses cargos.
Itaú
Há alguns anos o Itaú vem investindo na transformação com o Itaú Mulher Empreendedora . A iniciativa tem o objetivo de inspirar, capacitar e conectar empreendedoras e faz isso por meio de cursos gratuitos, programas de aceleração e conteúdo de técnicos e de gestão.
Pepsico
Em parceria com a FUNDES, a Pepsico lançou em 2018 o Mulheres com Propósito. O programa atende toda a América Latina e tem objetivo incentivar o empreendedorismo feminino e sua independência financeira por meio de cursos de capacitação. O plano é claro: apoiar ao menos 2 mil mulheres empreendedoras até 2025.
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