Projeto de jornalista de Brasília, que foi criado há quase quatro anos, envolve um grupo de 40 pessoas, chamadas de porta-vozes da cultura

Da Agência Sebrae de Notícias

Em 2015, o Distrito Federal ganhou um novo meio para divulgar a cultura da cidade. Mas, acima de tudo, ganharam dezenas de pessoas em situação de rua e que estão retornando ao convívio com a sociedade. São eles que fazem a comercialização da revista Traços, lançada pelo jornalista e músico André Noblat. De cada exemplar, vendido a R$ 10, o vendedor ganha R$ 7. O projeto, além de gerar renda e cidadania, contribui com a redução das desigualdades, o 10º dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU). Desde 2015, o Sebrae é parceiro da ONU no fomento aos negócios de impacto social e ambiental.

O negócio de Noblat começou depois que ele conheceu experiências semelhantes já desenvolvidas na Inglaterra e na Argentina. “Conheci esse projeto em 2004, quando estava saindo da universidade, pois meu interesse era fazer jornalismo e militância da causa”, afirma Noblat. Ele não conseguiu colocar sua ideia em prática de imediato, pois precisava de patrocínio, já que, somente com a venda da revista, seria impossível cobrir os gastos. Além disso, a intenção era acompanhar o morador em situação de rua.

“Não bastava ter o produto, eu queria oferecer uma ferramenta para que essas pessoas pudessem deixar as ruas”, explica o jornalista. Foram 10 longos anos para obter um patrocínio, até que, no final de 2015, o primeiro número da revista Traços foi para as ruas do Distrito Federal. Noblat explica que o projeto garante renda para esse público e promove o que ele define como o mais importante: “Estamos resgatando a autoestima das pessoas, porque eles ainda são invisíveis para a sociedade”.

Para cada revista Traços vendida a R$ 10, a pessoa em situação de rua recebe R$ 7. Com o restante do dinheiro, o próprio vendedor compra novamente a publicação. Hoje, a equipe de Noblat é formada por 16 pessoas, entre jornalistas e estagiários, da área administrativa e de coordenação social dos vendedores, definidos por ele como porta-vozes da cultura do Distrito Federal. Hoje, 40 pessoas trabalham rotativamente na comercializando da publicação em bares e pontos fixos da cidade.

A intenção é fazer com que o número de porta-vozes fixos chegue a mais de 60. “Hoje temos parcerias com estabelecimentos comerciais, locais em que muitas das pessoas em situação de rua sequer poderiam entrar anteriormente”, ressalta. “Mas essas pessoas, que nunca tiveram política pública a seu favor, hoje passaram a ser respeitadas e muitos saíram da forma que se encontravam há muitos anos”, acrescenta o empresário. Noblat calcula que o projeto da revista tenha ajudado pelo menos 100 ex-moradores de rua. “Muitos já deixaram as ruas e hoje vivem em outra condição”, comemora.