Co-fundadora da Pipe.Social comenta os resultados do 2o Mapa de Negócios de Impacto; setor se fortaleceu, mas enfrenta desafios

No dia 19 de março, a Pipe.Social apresentou o 2o Mapa de Negócios de Impacto. Lançado em 2017, o Mapa é um estudo que acompanha a evolução dos negócios de impacto socioambiental no Brasil. Seus resultados ajudam a orientar estratégias e ações do setor. Uma nova edição da pesquisa é lançada a cada dois anos.

Kaleydos entrevistou Mariana Fonseca, co-fundadora da Pipe.Social, em que comenta alguns dos principais resultados do mapa.

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O que mudou do 1o para o 2o Mapa de Negócios de Impacto?

Mariana responde que a maturidade dos empreendedores aumentou visivelmente. Em 2019, demonstraram ter maior clareza sobre o que são negócios de impacto, a importância de se medir impacto e a relevância de se posicionar claramente alinhado a algum dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Houve um significativo aumento no volume de empreendedores que responderam à pesquisa. Em 2017, foram 579 negócios. Em 2019, 1002. Aumentou também a penetração da pesquisa nas regiões norte e nordeste. Tudo leva à conclusão de que o setor está crescendo e amadurecendo.

Contudo, os empreendedores ainda enfrentam um problema comum a todas as startups, não somente as de impacto: acessar investimento e recursos financeiros, como capital semente e investimento-anjo, em seus estágios iniciais.

O ecossistema de impacto se fortaleceu

Alguns dados demonstram que o ecossistema se fortaleceu desde 2017. Dois deles, já citados anteriormente, são o aumento do número de negócios participantes da pesquisa e a maior participação de empreendedores do norte e nordeste. Outro é a quantidade de organizações que apoiaram a realização do estudo: em 2017 foram 40 atores, contra 55 em 2019. A Kaleydos apoiou ambas as edições.

Os empreendedores agora também estão mais cientes da importância de se medir o impacto social positivo gerado pelos seus negócios. Esse tema não era uma preocupação entre eles na época do primeiro estudo. Agora existem também mais tipos de recursos financeiros que os empreendedores podem acessar, como Venture Philantropy, crowdlending e crowdequity.

Tendências para o setor de negócios de impacto

Segundo Mariana, o estudo indica quatro grandes tendências para os próximos anos.

1 – Verticalização do ecossistema: aumenta a quantidade de apoios de aceleradoras e outras organizações intermediárias em diferentes setores ou regiões. Por exemplo, hoje o ecossistema têm programas e chamadas de negócios para temas específicos como empreendedores da periferia, empreendedorismo feminino, negócios para o clima, negócios na região amazônica etc.

2 – Relevância do Brasil no cenário mundial: atores do ecossistema internacional começam a olhar com mais cuidado para o setor no Brasil. De investidores a pesquisadores e organizações de apoio, há uma expectativa sobre o que o Brasil pode produzir de inovação. Parece haver especial interesse em negócios brasileiros que gerem soluções para a mudança climática e outros temas relacionados à sustentabilidade.

3 – Relacionamento com grandes empresas: as grandes marcas estão entendendo que o futuro exigirá que assumam responsabilidade pelo impacto que geram no mundo. Por isso, elas têm se aproximado dos negócios de impacto, o que abre oportunidade a empreendedores. Por exemplo, as grandes empresas podem ser investidoras ou clientes de empreendedores de impacto.

4 – Identidade do setor: deve continuar melhorando a compreensão do que são negócios de impacto e a legislação brasileira deve acompanhar essa tendência (sobre esse tema, é importante acompanhar os avanços da Enimpacto).

Ecossistemas regionais

O estudo de 2017 mostrava que os negócios de impacto brasileiros estavam concentrados nas regiões sul e sudeste. Embora ainda haja essa concentração, o estudo de 2019 revela que há um fortalecimento dos ecossistemas de impacto nas regiões norte e nordeste. O aumento de negócios de impacto nessas regiões é acompanhado e fomentado pelo aumento de organizações intermediárias que atuam nelas. Isso facilita que o empreendedor encontre apoio e investimento em sua própria região, sem haver a necessidade de se deslocar até São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo.

Negócios de impacto da periferia

Outro resultado do 2o Mapa é fortalecimento dos negócios de impacto da periferia. A atuação de alguns atores foi fundamental para esse desenvolvimento, entre eles: ANIP, Vale do Dendê e ADE Sampa. São organizações que entendem as necessidades dos empreendedores de regiões periféricas e ajudam a capacitá-los a gerar impacto local.

Apesar da crise econômica, quantidade de negócios de impacto aumentou

Os últimos dois anos foram um período de baixo crescimento econômico e recuperação de uma grave recessão. Apesar disso, houve uma grande quantidade de negócios que sobreviveram a esse período, além de muitos outros terem sido fundados.

Mariana explica algumas hipóteses para explicar esse fenômeno.

Uma é que a tendência de negócios de impacto é muito forte no mundo todo e isso se reflete no Brasil. Outra é que há questões urgentes, como as mudanças climáticas e resíduos sólidos, que precisam de soluções e o empreendedorismo de impacto pode fazer parte disso. Por fim, uma última hipótese é a de que, em época de crise econômica, o terceiro setor sofre forte queda de receita através de doações e precisa buscar alternativas para sobreviver. Criar negócios de impacto, ou tornar-se um, é uma das alternativas que as ONGs podem escolher para isso.

O perfil do empreendedor de impacto precisa de mais diversidade

Comparado ao primeiro estudo, o perfil do empreendedor de impacto se tornou mais diverso no 2o Mapa. Mas o fundador típico de uma startup de impacto continua seguindo o padrão “homem, branco, residente no sudeste e de classe média ou alta”. O setor precisa encontrar maneiras de apoiar diferentes perfis de empreendedores.

Por exemplo, criar programas e chamadas para mulheres, negros e índios e empreendedores da periferia. Esse é um movimento que já tem acontecido e que pode se fortalecer nos próximos anos. Outra medida é ter mais homens investindo em mulheres, ou mais mulheres investindo em outras mulheres.