Preservar a floresta é um bom negócio, para o planeta, para a sociedade e para o bolso

O Brasil tem 60% do seu território coberto por florestas e mais de 20% do seu PIB dependente do agronegócio. A lógica de mercado convencional dita que para produzir alimentos é preciso desmatar e que matas nativas são áreas improdutivas que geram prejuízo. É fundamental inverter essa lógica para haver um desenvolvimento econômico realmente sustentável a curto e longo prazo. Cada vez mais, evidências demonstram que manter as florestas em pé não apenas é bom para o meio-ambiente, como também faz total sentido econômico. Falando mais claramente: preservar florestas pode ser lucrativo.

Para gerar desenvolvimento econômico e empregos não é preciso desmatar desenfreadamente. Assim como para preservar as florestas não é preciso deixá-las intocadas. Segundo Roberto Palmieri, diretor-executivo adjunto do Instituto de Manejo Florestal e Agrícola (Imaflora), citado em matéria da Gazeta do Povo, o segredo está no fortalecimento das cadeias produtivas. Como exemplo, ele menciona a produção de castanha-do-Pará:

“Toda a castanha-do-Pará vem de área protegida, como parques e reservas extrativistas. Não tem plantio em área privada (…) porque na medida que você está utilizando [os produtos], gerando renda, se forma toda uma economia local que gera bem-estar para todos”, afirma Palmieri. Ele diz ainda que essa experiência pode ser ampliada para outros produtos e produtos amazônicos como a copaíba, cumaru e a andiroba. Este é apenas um exemplo de como florestas podem gerar lucro, emprego e desenvolvimento econômico ao mesmo tempo em que são preservadas.

A economia da floresta em pé representa um grande território a ser explorado por empreendedores e investidores de impacto. Para proporcionar maior entendimento sobre o tema, essa matéria apresenta conceitos importantes para quem deseja empreender com sustentabilidade.

Boa leitura!


Este é um conteúdo da série:


O caminho é a bioeconomia

O empreendedor ou investidor que deseja entender como aliar a preservação das florestas a negócios lucrativos deveria se familiarizar com o conceito de bioeconomia. A bioeconomia se caracteriza pela produção de recursos biológicos renováveis e a sua transformação em produtos de alto valor agregado, desde alimentos a bioenergia. O Brasil tem um dos maiores potenciais bioeconômicos do mundo e deve investir cada vez mais neste setor. Na Kaleydos, já publicamos uma matéria sobre o tempo que você pode ler aqui.

Para entender um pouco melhor o tema, assista a este vídeo do Sebrae:

Agrofloresta: alternativa sustentável para o agronegócio

Uma oportunidade para empreendedores de impacto é criar projetos de agroflorestas, também conhecidas como Sistemas Agroflorestais (SAF). É um modelo de agronegócio sustentável que combina o cultivo de uma grande diversidade de alimentos vegetais (30 ou mais espécies) em meio a árvores frutíferas ou madeireiras. Com isso, busca evitar os problemas ambientais causados pelas monoculturas e aproveitar melhor os recursos naturais, como solo, água e luz.

Um sistema agroflorestal apresenta diferenciais como a fácil recuperação da fertilidade dos solos, o fornecimento de adubos verdes e o controle natural de ervas daninhas e pragas. É uma maneira de enfrentar a degradação ambiental causada pelo agronegócio. Além disso, as árvores também pode constituir uma fonte extra de renda, uma vez que a sua madeira e os seus frutos podem ser comercializados.

Assista o vídeo abaixo para saber mais:

https://www.youtube.com/watch?v=fdxPs0-gx2k

Extração sustentável de madeira

Outra oportunidade no setor são alternativas sustentáveis da extração madeireira. Um modo de se fazer isso é com concessões florestais. Nesse sistema, o governo cede áreas para exploração à iniciativa privada, que deve atender a uma série de critérios rígidos de gestão florestal e empregar pessoas da região para fomentar a economia local.

Ativos florestais alternativos

Além da produção de alimentos mais tradicionais (por meio de agroflorestas) e da extração de madeira, as florestas em pé podem fornecer outros produtos a serem comercializados, como frutas e sementes. Uma vantagem de se investir nesse tipo de produção é o seu baixo custo de implementação e manutenção. Isso possibilita criar projetos que empreguem e capacitem comunidades locais e povos tradicionais, gerando desenvolvimento local.

Entre as culturas nas quais se pode investir dessa forma estão o açaí e a castanha-do-Pará e o cacau, entre outras menos conhecidas, como o buriti e o murumuru.

Cadeia produtiva rastreável

Para que a economia da floresta em pé seja realmente sustentável é fundamental que a sua cadeia produtiva seja rastreável e monitorada em tempo real. Isso permite coibir práticas ilegais, como o extrativismo predatório, e agregar valor aos produtos florestais, em especial daqueles provenientes de terras indígenas e unidades de conservação. Isso pode ser realizado por tecnologias como sistemas de sensores, QR codes e blockchain, por exemplo.

Casos de sucesso

Há muitos cases brasileiros interessantes no setor, dos quais destacamos quatro: Radix, a Toca da Floresta, Treevia e Wickbold.

Radix

Trata-se de uma plataforma que democratiza o acesso a investimentos florestais. A startup oferece títulos de investimentos lastreados em módulos florestais de madeiras nobres, já implementados com retorno em razão do seu beneficiamento e da sua comercialização.

A empresa realiza o plantio comercial de madeiras nobres em áreas degradadas, divide esses módulos e cotas e, a partir do crowdfunding, as disponibiliza a investidores. Esses recursos são destinados ao manejo dos módulos florestais da empresa e à expansão da empresa. Com eles, diminui os custos e riscos e aumenta a produção e eficiência da empresa.

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Toca da Floresta

Essa finalista do Prêmio Empreendedor Social 2018 adota métodos de agrofloresta para produzir uma tonelada de alimentos por mês em meio hectare de terra, comprovando que os Sistemas Agroflorestais podem, sim, produzir alimentos em larga escala.

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Treevia

É uma startup que aplica tecnologia de ponta ao monitoramento de florestas plantadas. A empresa criou um sistema de sensores que permite o monitoramento em tempo real da floresta. Além disso, também possibilita realizar a gestão, coleta, processamento e planejamento de inventários florestais de maneira totalmente online e automatizada.

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Wickbold

Conhecida fabricante de pães, panetones e alimentos em geral, a Wickbold incluiu na embalagem do pão de castanha-do-Pará um QR code que mostra ao cliente de onde vem a semente e quem a coletou. A coleta é feita por indígenas, quilombolas e ribeirinhos, obedecendo a boas práticas de manejo sustentável. Com isso, a empresa fortalece o comércio justo e a transparência para o produtor e para o cliente.

Para saber mais

Agroflorestas são oportunidade para negócios de impacto socioambiental

Como empreender com impacto socioambiental no agronegócio

Por que manter a floresta nativa de pé é um bom negócio

Como a economia de floresta em pé pode salvar a Amazônia – e o planeta

Carlos Nobre: modelo econômico de floresta em pé tornaria Amazônia mais soberana e competitiva

O agronegócio que valoriza a floresta em pé

Panorama: floresta em pé


Foto: Visualhunt.com